Reprodução do artigo publicado na edição de 23/4/2015 do O POVO.

Dos abusos
Plínio Bortolotti

Hélio RôlaNo mesmo dia (21/4/2015) em que O POVO fez o levantamento de quanto gastam os deputados do Ceará dos recursos da “cota parlamentar”, foi divulgada a sanção da presidente Dilma Rousseff ao aumento da verba do Fundo Partidário para R$ 867 milhões anuais.

(Antes de continuar, uma ressalva: o que se segue não é um apelo à “criminalização da política”; revolta quanto ao fato de o parlamentar dispor do dinheiro público para exercer o seu mandato; um ataque aos partidos. Trata-se de crítica ao exagero, à indulgência com que políticos tratam a si mesmos, aos desmedidos privilégios que se concedem; isto sim demanda pelo descrédito da política.)

Segundo levantamento do portal Congresso em Foco, o conjunto de senadores e deputados custa ao país R$ 1,1 bilhão por ano: considerando-se somente salário e benefícios (cota, ajuda de custo, verba de gabinete e auxílio moradia), que compõem verba mensal de R$ 147 mil apropriada pelo parlamentar.

A cota parlamentar, de R$ 42 mil, pode ser utilizada para as mais diversas atividades, de propaganda do mandato a viagens. E como a usam os deputados cearenses mais gastadores? Com “assessoria terceirizada” (sendo que cada gabinete já seus próprios funcionários e sem contar que a Câmara dispõe de técnicos altamente especializados), aluguel de carros 4 x 4 e frete de aeronaves.

Quanto ao fundo partidário, e a forma frouxa como suas verbas são distribuídas, talvez seja uma pista para se entender porque se criam tantos partidos no Brasil: é lucrativo possuir um, mesmo que seja nanico – basta registrá-lo para deitar a mão no dinheiro.

Cálculos do blog Para Entender Direito mostram que nos últimos 21 anos o fundo foi corrigido em 1.586%; se o salário mínimo houvesse sido reajustado na mesma proporção, valeria hoje R$ 77 mil. Porém, no Brasil, quem nasce para salário nunca chegará a fundo partidário.

PS. E o ajuste fiscal? Ah, que se dane, sempre tem um trouxa para pagar a conta.

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