Reprodução do artigo publicado na edição de 11/6/2015, do O POVO.

Hélio Rôla

Arte: Hélio Rôla

O PT e a linha
Plínio Bortolotti

O 5º congresso do Partido dos Trabalhadores (PT), que começa hoje na Bahia, inicia-se depois de um desencontro entre a presidente Dilma Rousseff e os principais líderes da legenda. Na Bélgica, para uma reunião com chefes de Estado, Dilma avisara que não compareceria à abertura do encontro. Depois da grita, ela modificou a agenda e confirmou presença: seu avião partirá de Bruxelas, direto para Salvador.

Esse desentendimento – que seria de pouca importância se corressem bem as relações entre a presidente e seu partido – continha o risco de transformar-se em encrenca das grandes, carregando mais ainda a atmosfera crítica ao governo que deverá permear o encontro.
O alvo visível das queixas mais ácidas dos petistas será Joaquim Levy, responsável pelos “ajustes” na economia. O alvo (nem tão) oculto: a própria presidente Dilma, que avaliza as medidas implementadas pelo seu ministro da Fazenda.

Mas esse não é o único problema do partido, que surgiu com a proposta de representar os trabalhadores e “os de baixo”, como classificava o sociólogo Florestan Fernandes, um dos fundadores do PT, para referir-se aos setores mais oprimidos da população.

Na questão ética, se o chamado “mensalão” levou o PT às cordas a Lava-Jato foi um knockdown, e a contagem já está nos cinco segundos (se não mais), para que o partido possa se recuperar aos olhos daqueles que se propõe a representar – e a tarefa é complicada.
Sobre a questão econômica, os dois mandatos de Lula conseguiram equilibrar as duas pontas da pirâmide, de modo que ambas ganharam (lógico, quem está em cima sempre ganha mais), o que permitiu um período de “paz entre as classes”. No entanto, o modelo esgotou-se e a conta está sendo cobrada no andar de baixo.

Portanto, o PT terá de responder se vai continuará sendo um partido “dos trabalhadores” ou se cruzará a linha, tornando-se um aliado definitivo da “burguesia”.

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