Reprodução da coluna “Política”*, edição de 15/11/2016 do O POVO.

Pedindo para sair: a crise do PT no Ceará

O PT foi um partido que cresceu surpreendentemente rápido para uma organização nascida de bases populares, sem nenhum grande nome da política tradicional. Sua gênese está fincada no ABC, cinturão industrial de São Paulo – especialmente da indústria automobilística -, onde se iniciaram as primeiras greves depois da retomada do movimento operário, ainda em plena ditadura. Da fundação do PT (1980) até Lula chegar à presidência da República (2002) foram 22 anos, o que é nada em termos históricos. Mas, como diz o dito popular: quanto mais alto, maior é o tombo.

CRISE
Que o PT vive uma crise sem precedentes é bastante óbvio, mesmo porque decidiu por desconsiderar a sua gravidade quando estourou o chamado “escândalo do mensalão”. Na época, vozes mais lúcidas do partido propuseram a “refundação” do partido, mas foram caladas pelos setores que pensaram ser a sigla invencível, depois ter superado (aparentemente) a enrascada na qual se metera. Depois, veio Operação Lava Jato, etc., e todo mundo sabe o que está acontecendo.

NA PROVÍNCIA
Voltem-se, então, os olhos para o Ceará, os dramas provincianos, onde se começa a desenhar uma situação nunca dantes vista no PT: a debandada de nomes importantes do partido em busca de outras legendas.

ARTUR BRUNO
O repórter Carlos Mazza apontou (edição de 12/11) que o PT pode perder quatro nomes de destaque, cada qual com seu motivo, todos relacionado à crise do partido. A saída do secretário do Meio Ambiente do Estado, Artur Bruno já é certa: “Não me sinto mais motivado a continuar no PT”, disse ele, à guisa de despedida.

CAMILO SANTANA
O governador Camilo Santana sempre foi considerado uma espécie de patinho feio, nunca se sentindo muito a vontade no ninho petista, pois sempre rejeitado por alguns setores partidários. Agora, responde filosoficamente ao ser perguntado sobre seu destino político: “Na vida, não podemos descartar nenhuma decisão”. Afirmativa que serve para tudo, inclusive para nada.

DR. SANTANA
Para o deputado estadual Manoel Santana, conhecido como Dr. Santana, que já foi prefeito de Juazeiro do Norte, o partido precisa “renovar todas as direções” e “discutir ideologia”. Ou seja, faz uma crítica ao pragmatismo eleitoral que apossou-se vorazmente do PT, mas já olhando por cima do muro.

JOSÉ AIRTON
O deputado federal José Airton Cirilo é outro que está na lista dos candidatos a deixar o partido. Ele já foi prefeito de Icapuí por duas vezes, cidade-símbolo do “modo petista de governar” nos tempos áureos do partido. Hoje, já com o pé em outra canoa, José Airton não pôde ser ouvido pela reportagem, pois está em viagem pela Itália, onde pode ter-se defrontado com outro tipo de terremoto.

JOSÉ GUIMARÃES
Quem apareceu com a mão no coldre para defender a honra do PT foi o deputado federal José Guimarães, chamando os divergentes de “fariseus” (hipócritas). A Artur Bruno, Guimarães desejou “boa viagem”; sobre o governador Camilo Santana, admitiu sua ligação com os Ferreira Gomes, mas aquiesceu: “O lugar dele é no partido”. De modo geral, afirmou que os discordantes são ingratos e não reconhecem o que o PT “fez de bom” para o país.

NA CÂMARA
Na Câmara Municipal de Fortaleza, o PT caiu de quatro para dois vereadores. Para a próxima legislatura foram reeleitos Acrísio Sena e Guilherme Sampaio. A bancada é minúscula e dividida: Acrísio quer apoiar o prefeito Roberto Cláudio (PDT); Guilherme que ser oposição.

ASSIS VALENTE
“Felicidade, afogada morreu/ A esperança foi ao fundo e voltou/ Foi ao fundo e voltou/ Foi ao fundo e ficou”. O PT deveria prestar atenção nesses versos da música “Lamento”, de Assis Valente.

*Em substituição ao titular, Érico Firmo, que está de férias.

 

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