Carta de André, cardeal  Vingt-Trois, arcebispo de Paris.

Tradução: Izabele Oliveira e Marie Teilhet

O nosso país, a nossa cidade de Paris particularmente, foram nesta semana o teatro de atos de violência e de barbaridade incríveis. Há muitos anos, para nós, a guerra, a morte, sempre estiveram longe, mesmo se, durante esse tempo, soldados franceses estavam engajados em diferentes países, tentando levar um pouco de paz. Alguns o fizeram com a própria vida.

Cardeal Vingt-Trois,

Cardeal Vingt-Trois,

Mas a morte violenta chegou de repente em nossa casa. Na França, e muito além de nossas fronteiras, todos estão em estado de choque. A maior parte dos nossos cidadãos viveram essa situação como um apelo a redescobrir certos valores fundamentais de nossa República, como a liberdade religiosa ou a liberdade de opinião. As manifestações populares espontâneas dos últimos dias foram marcadas por um grande recolhimento interior, sem manifestação de ódio nem de violência. A tristeza do pranto e a convicção de que juntos temos algo para defender, unindo os franceses.

Uma caricatura, mesmo que seja de mau gosto, uma crítica, mesmo que gravemente injusta, não podem ser colocadas ao mesmo nível de um assassinato. A liberdade da imprensa é, custe o que custar, o sinal de uma sociedade madura. O fato de que homens nascidos no nosso país, nossos concidadãos, possam pensar que a única resposta a uma piada ou a um insulto, seja a morte dos seus autores, coloca nossa sociedade diante de interrogações preocupantes. E pensarem que alguns judeus franceses devem pagar mais uma vez o preço pelos distúrbios que agitam a nossa comunidade nacional, dobra a gravidade da situação. Honremos também os policiais mortos, exercendo suas funções até o fim.

Eu convido os católicos de Paris a rezarem ao Senhor pelas vítimas dos atos terroristas, por seus cônjuges, por seus filhos e por suas famílias. Rezemos também por nosso país: para que a moderação, a temperança e o autodomínio, os quais experimentamos até o presente momento sejam mantidos nas semanas e meses que virão; que ninguém se deixe levar pelo desespero ou pelo ódio; que nenhuma pessoa se deixe levar pela facilidade de igualar alguns fanáticos com uma religião inteira. E rezemos também pelos terroristas que descobriram a verdade sobre o julgamento de Deus. Peçamos a graça de ser artesãos da paz. Não devemos jamais desacreditar da paz, se construimos a justiça.

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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