Zygmunt Bauman, sociólogo muito lido atualmente, ensina que os tempos de hoje são líquidos. O líquido não tem uma forma fixa e definida, mas ajusta-se, sem resistência, à forma do recipiente em que está. O que nos cerca nestes dias – como instituições, ídolos, moda, poder, problemas – é fluido e passageiro. Tudo é inconstante, incerto e precário.

O grito (1893), de Edvard Munch.

Em tempos passados, tínhamos um caminho a percorrer, bastava apenas seguir o que já estava posto pela nossa comunidade. A evolução dos transportes e a globalização trazem consigo o outro e sua maneira de ser e enxergar o mundo. Isso põe em crise tudo aquilo que para nós era o destino, a condição sem alternativa, a simples expressão da natureza das coisas.

Mesmo acompanhado, o indivíduo se sente só e fragilizado, tudo a sua volta parece desintegrar-se num indefinido. O estado é de angústia.

Buscamos, então, refúgio e conforto naquilo que aparenta ser sólido e permanente, como o que forma a nossa identidade. As redes sociais são um alento: construímos com facilidade o que gostaríamos de ser, formamos nossa identidade. Mas isso se dá rapidamente e não sem algum falseamento: fazemos e desfazemos amizades em poucos minutos, atualizamos o status com uma frase não creditada, publicamos uma foto melhorada por algum programa. E assim notamos que as redes sociais também estão imersas na liquidez do mundo atual. É como se tivéssemos tentado ficar em pé sobre a areia movediça.

O cristão vê absoluta atualidade nas palavras do Eclesiastes e sente, mais do que nunca, a necessidade de ser aquele homem sensato que constrói a casa sobre a rocha. O segredo  é não se apegar às vaidades desta vida, para não correr o risco de desmoronar com elas.

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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