Outubro deste ano está sendo marcado por tragédias na vida de alguns sacerdotes. No início do mês, Padre Luciano Gustavo Lustosa da Silveira, pároco da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na cidade do Conde, localizada na Região Metropolitana da Paraíba, foi preso pela Guarda Municipal da cidade por ter pintado o cruzeiro de sua Matriz.

Outubro trágico.

“Eu estou sendo preso. A prefeita mandou me prender. Eu troquei a pintura do cruzeiro que é da a paróquia. É uma coisa absurda. A gente fica de boca aberta diante dos desmandos, da arbitrariedade, do autoritarismo”, disse Padre Luciano no momento da prisão, em casa, ao portal A Voz do Conde. O sacerdote se refere à prefeita e candidata à reeleição Márcia Lucena (PSB).

Reportagem exibida na TV Arapuan (Redetv!) esclarece o episódio e reforça a inocência do padre, acusado de desobediência pela Prefeitura, que havia mudado a Cruz e pintado  na cor inadequada. Há 3 meses o sacerdote havia  solicitado à Prefeitura que o monumento voltasse à cor original. Diante da falta de resposta, em diálogo com Arcebispo, o sacerdote obteve a autorização para mandar pintar, uma vez que a Cruz pertence à paróquia.

Após a prisão do Padre, a Prefeita declarou que não mandou ninguém prender o padre, apesar da Guarda Municipal atuar sob suas ordens; entretanto, a decisão de prender o padre da cidade não pode ser iniciativa de policial. Padre Luciano conta na reportagem que vai entrar com processo na Justiça contra a Prefeitura, pelo constrangimento ilegal e injusto pelo qual passou.

Padre Luciano Lustosa foi conduzido à delegacia pela Guarda Municipal.

Arquidiocese da Paraíba manifestou solidariedade ao Padre Luciano através de nota. “Causa-nos estranheza que um sacerdote seja abordado por agentes públicos sob a alegação de que teria cometido um crime de desobediência, sem que os mesmos tenham uma determinação judicial que justificasse tal ato ou diante de um flagrante delito. A Arquidiocese, através do seu Arcebispo Metropolitano e da Assessoria Jurídica, está acompanhando toda a repercussão deste episódio, tudo para que a verdade seja esclarecida. À comunidade católica arquidiocesana, informamos que o Padre Luciano está sendo devidamente assistido de modo institucional, jurídico e espiritual. À sociedade paraibana, apresentamos o nosso desejo de que tudo seja resolvido com a licitude e lisura necessárias”, diz um trecho do documento.

Padre Luciano pediu afastamento da Paróquia. “Diante de toda a situação e buscando me resguardar, solicitei a Arquidiocese um afastamento provisório da Paróquia, pois temo por minha integridade física, uma vez que eu estou sendo hostilizado por meio de discursos de ódio e ataques verbais dirigidos a mim através de redes sociais. A referida salvaguarda de minha integridade física em nada prejudica todos os procedimentos administrativos, policiais e judiciais sobre os lamentáveis fatos ocorridos, inclusive a respeito de qualquer tipo de ameaça decorrente de posicionamentos divergentes e lamentáveis”, disse o Padre em nota.

A Prefeita gravou vídeo esclarecendo que não mandou prender o sacerdote e que, realmente, trocou o cruzeiro e mandou pintar de azul, pois seria a cor mais adequada para a Igreja. Disse também que recebeu a solicitação de mudança de cor por parte da Paróquia e que estava aberta aos ajustes. A dúvida é, quem mandou prender o Padre Luciano?

 

Padre é levado para cativeiro

 

Ainda na Paraíba, outro episódio deixou a população perplexa. Padre José Gilmar desapareceu por três dias, após ter enviado um pedido de socorro por um aplicativo de mensagens. O delegado Luciano Soares, responsável pela investigação, notificou  que o sacerdote foi encontrado consciente, porém, muito debilitado.

Aos policiais, Padre Gilmar informou que foi confundido com um motorista de aplicativo , rendido e levado a um cativeiro onde passou três dias sem se alimentar. O religioso foi amarrado, recebeu ameaças e constantes pedidos para transferência de dinheiro.

“[O pessoal que o encontrou] disse que ele tava um pouco desorientado, é tanto que a gente passou por ele, eu e um um agente da Polícia Civil e ele não deu sinal pra gente. A gente vinha com o giroflex ligado, com as viaturas caracterizadas, e o padre em nenhum momento acenou pra nós. Ele só foi localizado porque em outra viatura havia uma pessoa que trabalhava com ele na paróquia e o reconheceu”, disse o delegado que encontrou o Padre.

Padre Gilmar  é o responsável pela paróquia de Santa Teresinha, no Alto Róger, em João Pessoa, na Paraíba. Ele teria ido acompanhar um velório, mas não chegou ao local. O sacerdote enviou uma mensagem de socorro vista horas depois por um paroquiano que mobilizou a Polícia. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios de João Pessoa.

Padre é vítima de latrocínio premeditado em Minas Gerais

 

Em Minas Gerais, a história com um sacerdote teve desfecho trágico. Padre Adriano da Silva Bastos, em Manhumirim (MG), foi assassinado e teve o corpo incendiado. Um homem de 22 anos foi preso acusado pelo crime. Na delegacia disse que era amante do sacerdote e queria extorqui-lo, os policiais desconfiaram da versão apresentada e em novo interrogatório confirmou que o latrocínio, que é o roubo seguido de morte, foi premeditado, e o objetivo da ação era quitar um dívida de drogas com o tráfico por parte dos assassinos.

Padre Adriano foi roubado, assassinado e teve o corpo carbonizado.

Na verdade, o fato foi premeditado. No sábado, dia 10, houve uma reunião entre o suspeito preso, o irmão dele e mais uma pessoa, para tramar, ao que tudo indica, esse crime de latrocínio”, disse o delegado Gladyson de Souza Ferreira. “Ele é um conhecido traficante por lá e estaria devendo uma quantia de drogas. Em razão desse prejuízo [com as drogas apreendidas], ele teria vindo até Manhumirim para levantar o dinheiro. Foi quando tiveram a ideia de cometer esse crime”, pontuou o policial.

A polícia continua com as investigações, agora na busca por mais  um suspeito de ter participado do assassinato de Padre Adriano.

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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