Todos nós temos crenças e mais crenças introjetadas no mais profundo das nossas mentes, muitas são positivas, porém, muitas outras são negativas ou mesmo deletérias. Para que cresçamos em nível de pensamento e consciência, uma atitude absolutamente necessária é a crítica destas crenças.
Aprendermos a nos questionar quanto às nossas certezas, nossas veracidades, nossa utilidade… Eu sempre faço isso e tem me ajudado a crescer como ser humano! Criticar as crenças nos leva pouco a pouco ao crescimento em sabedoria, pois ela é tecida pela arte da dúvida e da crítica. Para refletir sobre isso, compartilho uma frase muito profunda do psiquiatra e escritor Augusto Cury.
“Quem não critica o que crê não lapidará suas crenças, quem não lapida suas crenças será servo das suas verdades. E se suas verdades forem doentias, certamente será uma pessoa doente”
Augusto Cury
Com uma frase como essa, eu não posso ser muito simplista. Vou ser bem duro com as palavras, e se você se sentir ofendido, já está avisado. Ele está falando sobre as crenças de um modo geral, mas logicamente as crenças mais fortes em nossas vidas são as religiosas. Quase todas as religiões nos ensinam várias crenças, porém, muitas delas, não nos levam a um crescimento espiritual mais profundo, que na realidade deveria ser o objetivo delas.
Muitas vezes os mestres espirituais, líderes religiosos, gurus etc. querem nos dizer que certas verdades são absolutas, inquestionáveis. Por quê? Por que são inquestionáveis? Se eu questioná-las serei condenado? Irei para o inferno? Não desfrutarei da glória celestial? Eu acredito sinceramente que NÃO, se assim o fosse, já estaria no inferno há muito tempo.
Eu não acredito em verdades absolutas, mas em verdades individuais. Gosto sempre de lembrar uma belíssima frase do Raul Seixas que diz assim: “Cada um de nós é um universo…”. Como pode cada pessoa, com suas peculiaridades, suas crenças, sua história, sua educação, seu modo de vida… ser colocada dentro de um único modelo padrão e engessado? Sem possibilidades? Acho isso uma afronta a nossa capacidade intelectual e emocional. Digo isso com toda sinceridade.
Eu já fui uma pessoa bastante religiosa, e lembro muito bem que nessa época não tinha a visão que tenho hoje, e acima de tudo, não tinha o desprendimento, o carinho, a ternura, o desapego, a paz, que tenho hoje, sentia uma profunda inquietação e não sabia bem o motivo. Queria entender mais profundamente muitas coisas, mas bastava abrir a boca por poucos segundos e já era silenciado, e era de uma forma mesquinha, escrupulosa. Como eu era silenciado? Meus colegas me diziam: “Mas na palavra de Deus tem isso, isso e aquilo outro…”. Sim? E o que a palavra de Deus tem a impactar e trazer mudanças reais na sua vida, na sua vida como INDIVÍDUO? Nos seus próprios pensamentos, opiniões, argumentos? Sempre esse pensamento se passava na minha mente. Eu sempre busquei ter as minhas próprias convicções, argumentos etc. Não consigo me sustentar na palavra de outras pessoas ou de livros. Isso que estou dizendo agora é uma verdadeira arte e digo sem medo que são pouquíssimas as pessoas que tem essa coragem de assumirem o total comando de suas vidas.
Quero deixar claro que não condeno absolutamente nenhuma escrita sagrada, na realidade me alimento diariamente de muitas delas, e das mais variadas fontes e religiões. Eu aprendo muito com os ensinamentos de todas as religiões que tenho contato e nunca canso de repetir, não existe nenhuma religião melhor do que outra, todas são maravilhosas e todas nos levam ao mesmo Deus.
Quero concluir com o que o Augusto fala sobre as doenças. Uma pessoa que não critica suas crenças, certamente é uma pessoa doente. Aqui também preciso ser bem claro, essa doença não se trata basicamente de doença no corpo, é mais profundo, o Cury está falando das doenças da alma, que em muitas pessoas não se manifesta diretamente no corpo, mas em seus gestos e comportamentos, uma delas, que inclusive já escrevi com mais detalhes em um texto anterior, é a VAIDADE ESPIRITUAL. Esse é um dos comportamentos de uma pessoa doente no campo das crenças. Já convivi com várias pessoas doentes e com o corpo físico perfeito, sem nenhum sinal de doença, mas como procuro desenvolver este lado espiritual, percebi. Então, pouco a pouco fui me afastando do ambiente em que buscava meu crescimento espiritual, porque percebi que em vez de crescer, estava regredindo, estava restringindo minhas possibilidades, estava sendo colocado em um universo cheio de certezas. E um ambiente assim, pelo menos para mim, não pode ser saudável.
Claro que essa frase pode ser estendida para outras crenças, mas creio eu que as religiosas são as mais importantes de serem abordadas. Que essa pequena reflexão lhe leve a pensar sobre isso e que você busque cada vez mais criticar suas crenças. Tenho certeza que assim, você elevará seu nível de consciência…
Sabe?
Andei muitos, imensos anos, com medo de criticar minhas crenças.
Mas um dia… arrumando e arejando bem as minhas ideias, concluí que afinal elas não existiam. Eram apenas umas tabuazinhas de salvação que entretanto apodreceram.
Filosofia e psicologia são pontos em comum consigo Isaías. Mas teologia? Nem quero sequer chegar perto.
Muito bom o texto, a visão critico construtiva.