Uma das parcerias mais esperadas da 7ª edição da Mostra Internacional de Música em Olinda era o encontro de Dado Villa-Lobos e Cristina Braga (fotos de Tiago Calazans/Usefoto). Ele, ex-guitarrista de Legião Urbana lançando a versão em estúdio da sua estreia solo, Jardim de Cactus (Rockit!). Ela, 1ª harpista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro apresentando o repertório de Feito um Peixe (Biscoito Fino), lançado recentemente e que tem Dado como convidado especial. A dupla inusitada se apresentou no domingo no Seminário de Olinda e levou uma multidão para a assistir aquele curioso encontro de guitarra e harpa. Ela entrou primeiro, belíssima, toda vestida de preto e claramente emocionada. Entre muitos sorrisos, ela interrompe a simpatia e entra em transe quando começa a tocar sua harpa. Uma das maiores musicistas brasileiras, Cristina Braga parece ter seu instrumento como uma extensão do próprio corpo. Seu repertório varia entre números  instrumentais e outros cantados mostrando sua voz rouca e intensa que versão meio soul de Inútil paisagem. É como se seu canto entrasse como mais um instrumento e não como o foco do trabalho. Dado Villa-Lobos foi chamado ao palco para dividirem Peixe, do disco de Cristina. Ele entra sem dar muito cartaz para a plateia transparecendo certa antipatia. Ainda assim, uma vez Legião Urbana, sempre Legião Urbana, e o público o recebeu com uma chuva de aplausos. Em seguida, a dupla apresentou duas músicas de Dado, Jardim de cactus e Quase nada. Pouco conhecidas e interpretadas com certa frieza, pouco elas causam. Dado, verdade seja dita, é um guitarrista limitado e seu trabalho como cantor também deixa muito a dever. No entanto, ao lado de Renato Russo e Marcelo Bonfá, ele foi responsável pela criação de um dos repertórios mais importantes do rock nacional e que, merecidamente, arregimentou uma legião (sem trocadilho) de fãs. E é aí que a dupla Dado e Cristina divide funções: ela entra com a habilidade inquestionável como instrumentista e ele com um repertório resistente ao tempo. Teatro dos vampiros, Geração Coca-Cola, Por enquanto e Índios fizeram todos cantarem juntos. Fora da Legião, uma versão rock para Retrato em branco e preto, de Chico Buarque e Tom Jobim, e uma belíssima versão para Trenzinho caipira, com Dado arranhando sua guitarra como um apito de trem. Importante: Trenzinho caipira tem letra de Ferreira Gullar sobre melodia de Heitor Villa-Lobos, tio-avô de Dado. No bis, eles voltam a Tom Jobim com Águas de março e se revezam na letra, assim como o autor fez com Elis Regina em 1974. No fim, aplausos, pedidos de mais uma e dupla sai. Ela sorrindo, ele com a mesma seriedade que entrou.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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