Antes de subir ao palco do Ceará Music o tecladista Bruno Medina, do Los Hermanos, converso com o blog Discografia e contou o que eles andam fazendo durante estas longas “férias por tempo indeterminado” e já adianta o que eles estão preparando para o show que rola esta noite no Marina park Hotel.

DISCOGRAFIA – Já se vão quase quatro anos desde que vocês deram a pausa na banda. Como é voltar ao palco novamente com o quarteto?

Bruno Medina – Surpreendentemente, não é muito diferente de quando a gente estava fazendo turnê. Acho que o clima é muito parecido. Basicamente a intimidade, apesar do tempo, permanece a mesma. Tanto desta vez, quando da anterior com Kraftwerk e o Radiohead, foi uma experiência muito agradável. Muito tranquila, no que se refere à praticidade. O clima ótimo e é como eu disse, sinto como se fosse uma continuidade natural de uma turnê que a gente estava fazendo.

DISCOGRAFIA – O que a apresentação que vocês vão trazer a Fortaleza tem de diferente em relação aos shows realizados em março do ano passado, quando vocês abriram para o Kraftwerk e para o Radiohead?

BM Eu acho que o set list do Los Hermanos, principalmente quando se trata de um festival, ele se relaciona muito com as outras bandas, né? Quando a gente está tocando com alguma banda que é de rock alternativo ou uma banda clássica de eletrônico, obviamente isso interfere um pouco nas músicas que nós vamos escolher pra tocar. No Ceará Music, em Fortaleza, isso não vai ser diferente. A gente vai fazer uma análise de quem vai tocar ali também naquela noite, claro que o tempo do show também interfere. A gente vai ter algo em torno de 80 minutos pra tocar. Mas são essas as coisas que interferem no set list. Pra responder a pergunta, acho que sim, vai ser bastante diferente na medida que o tempo do show vai ser diferente e a circunstância do show vai ser bastante diferente.

DISCOGRAFIA – Vocês já participaram do Ceará Music, inclusive dividindo o palco com os Paralamas do Sucesso. O que você lembra do festival?

BM – Bom, a gente já participou várias vezes do CM e o que eu lembro é isso: aquela bagunça, encontrando com os colegas, todas as bandas misturadas no café da manhã, a questão de ficar hospedado no próprio local do show, o barulho que é, a dificuldade que é pra dormir se você não entra na festa, você só consegue descansar depois que acaba a tenda eletrônica e cenas loucas. Me lembro de já ter visto uma pessoa passando pela janela dos quartos. Por que os quartos têm feito um parapeito na janela e pessoas passavam por ali e alguns fãs ficam misturados também no andar dos artistas, então existe uma interação muito grande a recepção de muita gente. Enfim, é aquela bagunça bem de festival, clássica. Muito legal.

DISCOGRAFIA – Como está sendo a rotina de ensaios para estes novos shows?

BM – A essa altura, enquanto estou fazendo essa entrevista (enviada na última quarta), os ensaios já acabaram. O que eu posso dizer é que foi legal e foi também bem tranquilo. Nenhum grande estress, nenhuma grande preocupação. A gente foi tocando as músicas, tocando e tocando até ficar redondo. E isso começou a acontecer a partir do segundo ensaio. O primeiro foi meio devagar. Obviamente, a agente já estava há um ano e meio sem tocar essas músicas. Mas, no terceiro, já estava tudo tinindo. E eu acho que o resultado foi visto nessa apresentação do SWU. O que eu li até agora foi bastante positivo. As pessoas disseram as músicas estavam na ponta da língua, que a gente estava tocando bem e foi isso que eu senti também. A impressão que eu tenho é essa.

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DISCOGRAFIA – Antes de vir a Fortaleza, vocês já se apresentaram no SWU. Como foi esse show?

BM – O show foi muito emocionante. Eu acho que as pessoas estavam muito felizes com essa situação da gente estar tocando lá e a gente também estava muito feliz. E a agente ficou muito surpreso com o resultado do show. Eu acho que o Los Hermanos de repente se transformou numa das principais atrações do festival. Acho que ninguém esperava isso. A expectativa era muito grande e as pessoas que estava lá estavam muito a fim de ver e foi um momento muito emocionante. Quem assistiu o show, não só lá como pela TV, percebeu que a banda estava muito emocionada e que a plateia estava muito a fim de ver aquele show, sabe? As músicas foram cantadas em coro, uníssono, alto e foi assim um show muito caseiro dentro de um circunstância muito pouco intimista. Eu pelo menos estava muito à vontade naquele palco ali com 50 mil pessoas. A plateia no dia fez com que a gente se sentisse assim.

DISCOGRAFIA – Havia um time de grandes bandas e artistas no SWU, muitos tão esperados quanto o Los Hermanos. Vocês conseguiram ver algum show? Algum que mereça um destaque aqui?

BM – Eu cheguei faltando duas horas pro show, tinha muitas providências pra tomar, como terminar de fazer o set list, mandar imprimir lá o set list pra todo mundo, algumas entrevistas também. Eu dei uma olhada no show do Suicidal Tendencies, subi no palco e assisti um pouco. O show que eu realmente queria assistir era o do Rage Against to Machine, mas foi praticamente impossível porque eles fecharam o palco e a gente não conseguiu assistir dali. A gente tinha que ir pra galera mesmo e àquela hora já estava tudo lotado. Também ia ser um pouco estranho se todo mundo da banda fosse assistir no meio da galera. Podia ser meio confuso. Eu acho também que a gente não ia conseguir assistir direito. Eu fiquei um pouco decepcionado por que era um show que eu realmente queria assistir. Mas não deu e acontece.

DISCOGRAFIA – Vocês têm dimensão da expectativa que os fãs estão sentindo diante do fato de vocês voltarem a tocar juntos? Como reagem a isso?

BM – Isso também foi surpreendente de certo forma. Claro que a gente esperava uma expectativa, até por que a gente já não tocava há algum tempo. E a gente sabe que tem um fã-clube muito cativo, digamos assim. Mas, realmente, foi uma loucura. A gente em recife vendeu 17 mil ingressos até agora. Sendo que 15 mil deles foi em três dias. Em Salvador foram 10 mil ingressos vendidos em… sei lá… se juntar tudo, talvez três horas, quatro horas. Realmente é uma surpresa a força que a banda tem mesmo parada com esse tempo, como eu acho que houve tempo pra angariar um novo público. Talvez um público que não conhecesse a gente ainda na ativa e conheceu depois da gente ter feito o hiato. A gente se sente muito querido com essa receptividade e isso faz com que nossos shows sejam melhores e está mesmo muito entusiasmado para essa mini turnê pelo nordeste.  Acho que os shows vão ser memoráveis, tanto pra gente quanto pras pessoas que estiverem lá. Vai ser um grande encontro, uma grande oportunidade.

DISCOGRAFIA – Como foi o contato entre vocês durante essa época de separação? Continuaram se falando e acompanhando os trabalhos uns dos outros?

BM – Sim. Eu acho que a gente não se fala com a mesma frequência, mas a gente se comunica bastante por email. O Marcelo agora mora em São Paulo e o Rodrigo ta morando Los Angeles. O Barba mora muito longe de mim, apesar de morar no Rio de Janeiro. Cada um tem a sua rotina também e eu tenho dois filhos, por exemplo. Pelo menos pra mim, o meu tempo, não só pras pessoas da banda quanto pros meus amigos, diminuiu bastante. Mas a gente, na medida do possível, sabe muito da vida um do outro, o que ta acontecendo, disco, show… e tenta ir. Eu fui pro show do Marcelo. Tentei ir pro show do Little Joy, mas não consegui porque o horário é absurdamente tarde na vez que eles tocaram aqui no Rio. Mas ouvi os discos, conheço, gosto das músicas, e a relação quanto a esse aspecto é muito positiva, tanto quanto em relação a todas as pessoas da banda. O clima é muito bom e, como eu disse, parece que a gente tinha feito um show anteontem. Não tem essa sensação de que a gente está afastado há muito tempo.

DISCOGRAFIA – A fidelidade e a paixão dos fãs do Los Hermanos já são bem conhecidas. Quais os incômodos de tamanho sucesso?

BM – Incômodo é uma palavra um pouco forte. Há uma coisa relacionada à privacidade que é um pouco chata, mas eu acho que não dá nem pra se queixar disso agora. Por que a gente não aparecendo tanto na televisão a coisa fica bem mais tranquila. Um autógrafo aqui outro ali. Eu mantive um canal aberto durante esse tempo todo porque eu tenho blog, as pessoas entram em contato normalmente, sempre entraram durante todo esse tempo. Então eu tenho contato, eu falo, eu ouço o que as pessoas escrevem pra mim. Eu sei o que se passa na cabeça delas. No geral, eu acho que a gente vive em tempo de muito pouca privacidade pra qualquer um, não só pros artistas. Talvez essa seja a parte mais chata. Mas a gente sempre soube lidar muito bem com isso na medida do possível. A gente sempre tentou quebrar esse tabu, quando as pessoas entravam no camarim a gente tentava tranquilizar elas e ter uma conversa normal pra mostrar que não existe essa idolatria. Não há motivo pra isso. Somos pessoas normais que fazemos um trabalho que, Graças a Deus, é muito querido e que a repercussão é essa. Mas eu não chamaria isso de incomodo. Talvez seriam “ossos do ofício”, como dizem.

DISCOGRAFIA – Muito dessa fidelidade dos fãs nasceu após o lançamento do disco “Bloco do eu sozinho”. Queria que lembrasse como esse álbum foi concebido.

BM – Ele foi concebido num clima muito estranho, em contraste com uma certeza muito grande nossa de que estávamos fazendo a coisa certa. As músicas existiam, elas aconteceram e realmente apontavam pra um lado muito diferente do primeiro disco. Obviamente, teve gente que não gostou disso. As pessoas da gravadora realmente achavam que isso era um grande tiro no pé, que isso arruinaria a nossa carreira, não deram nenhum incentivo pra gente seguir com aquele repertório. Muito pelo contrário, acho que fizeram tudo pra prejudicar o que havia de possível. O clima de gravação, em certa medida, com o Chico Neves foi tranquilo, mas ao mesmo tempo a gravadora sempre ali em cima querendo ver, querendo acompanhar, querendo saber, querendo acompanhar. Quando disco saiu foi um certo alívio, mas ao mesmo tempo foi uma decepção por que foi um disco que foi muito pouco trabalhado em rádio, em televisão nem pensar. A gente foi entregue à própria sorte. Interessante nessa guinada é que a partir dali a gente começou a controlar todos os aspectos da nossa carreira, inclusive em relação à exposição e, sobretudo, a gente começou a desenvolver uma relação muito forte com os nossos fãs na internet. Era o único canal que estava disponível ali, pra gente, naquele momento. O disco foi acolhido por parte da imprensa, começou a reverberar e reverbera até hoje. Um disco que teve um tempo de assimilação muito lento. Esse disco vende até hoje. Na época, ele vendou pouco, mas ele sempre vende. Ano que vem vai fazer dez anos de lançamento do Bloco e realmente foi, como está aqui na pergunta, um divisor de água pra gente. Foi muito importante ter lançado e foi um dos discos mais representativos da nossa carreira.

DISCOGRAFIA Existe uma série de mitos sobre o Los Hermanos: que vocês não usam figurino, que não gostam de fazer bis, que não tocam Anna Julia, que você é o mais sério, entre outras coisas. O que é verdade e o que não é?

BM – Usar figurino, realmente, a gente não usa. As pessoas usam a roupa que tava ou dá uma pensadinha, traz uma blusa que gosta mais pro show. Mas, figurino, figurino mesmo, pensado por figurinista, nunca houve. Não tem nenhuma abertura pra isso, não tem nada a ver com a gente. Não gosta de fazer bis é mentira, não sei de onde saiu isso. A gente sempre fez bis, na maioria dos shows. Só quando realmente é festival, porque aí não dá pra fazer bis por que tem tempo pra tocar e não dá pra perder tempo de fazer bis. Mas a gente toca e já voltamos até mais de uma vez pro palco por que as pessoas estavam pedindo. Que não tocamos Anna Júlia é verdade, mas já tocamos muito também, né? Durante muitos anos nós tocamos Anna Júlia e acho que essa música foi tocada demais, não só pela gente como por outras pessoas, como no rádio também. Então, acho que a gente pode se dar o direito de não querer tocar essa música. A gente tocou nos shows da Fundição (Progresso, espaço de shows no Rio de Janeiro). Nesses outros festivais a gente realmente achou que não cabia. Mas nada impede que a gente volte a tocar. Não há problema nenhum em relação a essa música, a não ser uma certa saturação que depois melhorou também e tinha uma época que a gente tocava no set list. Ela entra e sai como quase todas as outras músicas. Não sei por que a gente deveria tratar ela com diferença só por que é uma música muito famosa. Nosso público não pede isso. Em relação a eu ser o mais sério da banda, provavelmente é verdade. Eu acho que sou sério mesmo, não dá pra negar. Não sei nem se isso chega a ser um mito. Acho que isso é uma constatação verdadeira.

DISCOGRAFIA – Vocês já falam em disco novo? Já existe algum plano em relação a isso?

BM – Não. Não houve nenhuma conversa sobre disco novo em momento algum. O Marcelo vai lançar um disco agora, o Rodrigo também ta fazendo um disco com o Little Joy. Não existe nenhuma perspectiva disso (disco novo do Los Hermanos) nem nenhuma conversa. Infelizmente, pros fãs, eu devo dizer que se você ouvir diferente disso, é mentira.

DISCOGRAFIA – Independente dos planos, de sua parte, já existe vontade de lançar um novo trabalho?

BM – Se existe, não foi manifestada. A gente realmente não conversou sobre isso. Isso é uma coisa muito séria. Se isso for acontecer, deve ser tratado de uma forma séria e, por enquanto, não é o momento. Não há clima para isso, por enquanto, e acho que faz parte da relação de respeito que a gente tem um com o outro. De saber que existe um tempo pras coisas acontecerem e muito provavelmente esse tempo não aconteceu.

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DISCOGRAFIA – Em mais de dez anos de banda, qual a pergunta que vocês mais responderam e o que faltou perguntar? (se já quiser responder, ótimo)

BM – Acho que a pergunta que a gente mais respondeu foi ou “quem é Anna Júlia”, ou pra contar a história de Anna Júlia ou “por que a gente não toca Anna Júlia”. Acho que eu já respondi “por que a gente não toca”. “Quem foi Anna Júlia”, foi uma menina que estudou com a gente na faculdade, por quem o nosso produtor se apaixonou. O Marcelo, pra dar uma força ao relacionamento, fez a música. Eles ficaram uma vez, mas não namoraram, nem nada. Então foi uma coisa que se esvaio ali no momento.

DISCOGRAFIA – O que o público pode esperar deste show em Fortaleza no Ceará Music?

BM – Pode esperar que vai ser uma noite bem emocionante. As bandas que vão tocar com a gente são ótimas. A gente deu sorte, é um dia bem interessante. A gente está muito entusiasmado, muito feliz, muito sereno, muito tranquilo. As músicas estão na ponta dos dedos. Acho que vai ser uma noite muito bacana, memorável mesmo. Espero que todo mundo se divirta, porque a gente com certeza vai se divertir muito.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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