Esta semana fui surpreendido com a notícia de que o SESC havia encaixotado toda a obra de Itamar Assumpção naquilo que chamou de Caixa Preta. A tal caixa traz nada menos que 12 discos do compositor paulista. São eles: Às próprias custas S.A.; Ataulfo Alves por Itamar Assumpção; Beleléu, leléu, eu; Bicho de sete cabeças Vol 1; Bicho de sete cabeças Vol 2; Bicho de sete cabeças Vol 3; Intercontinental; Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos; Pretobrás I; Pretobrás II; Pretobrás III e Sampa Midnight. Os dois últimos volumes da trilogia Pretobrás são inéditos e foram produzidos a partir de registros que Itamar deixou em voz e violão. Para estes, foram arregimentados Elza Soares, Arnaldo Antunes, Seu Jorge, Edgard Scandurra, BNegão, Banda Isca de Polícia, Naná Vasconcelos, Zélia Duncan, Ney Matogrosso, Arrigo Barnabé, Alzira Espíndola e outros, sob produção de Elza Soares, Arnaldo Antunes, Seu Jorge, Orquídeas do Brasil, Edgard Scandurra, BNegão e outros. A produção dos inéditos ficou com Paulo Lepetit e Beto Villares. Pra fechar o conteúdo da Caixa Preta, um livreto de textos e imagens. Ok, este seria mais um resgate da obra de um artista, como volta e meia acontece. No entanto o termo “Obra” cai com perfeição quando o autor em questão é Itamar Assumpção. Cantor de voz grave e peculiar, paulista até onde podia e compositor dos mais criativos entre os criativos desse Brasil varonil. Falecido em 2003, poucos meses antes de completar seus 54 anos, ele deixou para trás uma série de canções que aos poucos vão ganhando vida nas vozes de Zélia Duncan, Rita lee, Cássia Eller e outros. Antes de mais nada é preciso saber que o cara não é fácil. Cada três minutos de música carrega horas e horas de leitura de tudo o que pode aparecer. Desde de James Joyce até Tio Patinhas. Em Aviso aos meliantes, gravada por Rita Lee no disco 3001 (2000), ela já anunciava “Pra lá de desesperado, aviso aos meliantes/ Quem não está no meu lado que saia da minha frente/ Com generais e soldados armados até os dentes/ Vou destruir o senado, vou depor o presidente”. Itamar era assim mesmo e, não por acaso, recebeu título de “maldito” junto com outros nomes como o não menos maravilhoso Sérgio Sampaio. Ele também fez parte do grupo conhecido como Vanguarda paulistana, que incluía ainda Arrigo Barnabé e Rumo. Enfim, Itamar é algo localizado entre Jimi Hendrix e Cartola. É meio rock e meio samba. E sua poesia é algo que não tem precedentes. É original, forte e agregadora. No campo da delicadeza, a letra de Milágrimas aconselha “Se amargo for já ter sido/ Troque já este vestido/ Troque o padrão do tecido/ Saia do sério, deixe os critérios”. Delicado ou agressivo, Itamar Assumpção e sua Caixa Preta são dois itens indispensáveis para qualquer fã de música brasileira.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=9JeRBCgLEt8&feature=related[/youtube]

Veja imagens no site do SESC:

http://www.lojasescsp.org.br/index.cfm?area_loja=6&produto=270

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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