Capa do disco “Low in High school”, o mais novo de Morrissey

Por Thiago Chaves (professor da Unifanor-Wyden e colaborador do DISCOGRAFIA)

Com duas excelentes oportunidades de ver de perto, ou pessoalmente como alguns preferem, Morrissey já deixa seu cativo público à espera de um novo álbum ou até mesmo uma nova volta (dessa vez com mais datas e cidades). Um artista do tamanho de Morrissey visitar o Brasil sempre é um fato a se comemorar. Iniciando a turnê pela tradicional casa de shows Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, o músico inglês segue um roteiro já conhecido: brinda o público com pouco mais de 40 minutos de vídeos e canções desconhecidas pela maioria dos presentes. Nessa hora a todo momento vemos pessoas consultarem um famoso app de identificação de canções.

Ocupando um patamar junto a gigantes da cultura pop como Bob Dylan e Jonh Lennon, o ex-Smiths é um cantor diferente. Daqueles que exige de seus fãs paciência e muita… muita devoção. Não aquele sentimento religioso, mas a cumplicidade de quem veste a camiseta ou participava de uma antiga rede social em que existia uma comunidade chamada “Morrissey me entende”. Para atuais quarentões ou cinquentões que viveram a adolescência pré internet, antes do MP3 e smartphones, que passaram as angústias da adolescência com as velhas fitas K7 ouvindo o bardo cantar Heaven knows I’m miserable now, rever Morrissey é revisitar o passado na melhor definição proustiana.

A apresentação da Fundição Progresso foi totalmente diferente da última passagem do cantor em terras brasileiras. Observamos nas quase duas horas de show um Morrissey feliz por estar no palco, tirando sarro com a rivalidade Rio-São Paulo e até mesmo dando autógrafos durante o show. Seu mais recente trabalho, Low in High school, foi produzido por Joe Chicarelli, que já trabalhou com Elton John e U2.

Como sempre, a queixa mais comum em toda saída de show do Morrissey é a de que ele não contempla a carreira dos Smiths de forma correta. Ora! O cara tem uma vasta e excelente produção (podemos dizer literária?!), iria apenas fazer cover de sua antiga banda? Tá bom, também queremos alguns sucessos da banda inglesa, mas com moderação. Por sinal, Morrissey prepara para 2019 um disco apenas de covers de antigas canções que ele gosta. California Soon, seu próximo álbum, premiou a atual turnê com Back on the Chain Gang, do Pretenders. Ensaiou a seu modo, alguns passos de dança, mas sorte que ele prefere os vocais sempre afiados e cuidadosamente preservados durante sua carreira.

Morrissey em tempos tão complexos em que a arte se torna apenas um produto, nos brinda com a elegância de um James Dean, Sinatra e Elvis Presley. Fosse desses cantores que sonham com milhões em contas bancárias ele perderia sua essência. A década de 1980 seria mais difícil e não teríamos 90% das boas bandas nacionais e internacionais que olham para os Smiths como que quem olha pra Beatles e Stones.

Um fato curioso dessa turnê foi que ao chegar ao Rio encontrei Phill, um legítimo representante de Manchester e adorador do Morrissey (suas tatuagens denunciavam isso). Enquanto caminhava pelo bairro de Botafogo fui abordado por ele e sua esposa (eu usava a camisa do disco The Queen is dead) o que facilitou nosso contato. Ele me disse que fica feliz por encontrar pessoas por onde anda que gostem de Smiths. Ora, meu caro Phill, nós que agradecemos a vocês por compartilharem esse tesouro cultural com a humanidade.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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