Uma das raras premiações dedicadas à Música Popular Brasileira, o Prêmio Grão de Música costuma buscar o que está além das grandes gravadoras e valorizar iniciativas que primam pela qualidade, mais que a quantidade. O Ceará sempre esteve no radar dessa premiação idealizada e coordenada pela cantora e compositora Socorro Lira. Entre os nomes já reconhecidos nesta honraria estão Eugênio Leandro (em 2016), Calé Alencar (2017) e Marlui Miranda (2019), entre outros.

Em 2020, foi a cearense Aparecida Silvino uma das 15 vencedoras do Grão de Música. Selecionada pela música Não Estamos sós, lançada no disco Sinal de Cais, ela vai integrar uma coletânea que reúne todos os premiados desta sétima edição – o CD físico é distribuído gratuitamente e as canções ficam disponíveis no site do projeto. Entre eles, nomes como Nilze Carvalho (RJ), Graça Gomes (AC) e Oswaldinho da Cuíca (SP). A cerimônia oficial de entrega do prêmio – além da coletânea, tem uma estatueta de bronze desenhada por Elifas Andreato – acontecerá no dia 3 de dezembro, às 19 horas, dessa vez em formato digital pelas plataformas do PGM.

A seguir, Aparecida Silvino comenta sobre o reconhecimento do PGM e seus planos para o futuro mais próximo possível.

Discografia – O que representa pra ti esse prêmio Grão de Música?
Aparecida Silvino – Marcos, atualmente esse é o maior prêmio da música brasileira. O artista que recebe o Prêmio Grão de Música passa o ano inteiro sendo visto por diversas tonalidades de pessoas. Por diversos matizes da sociedade, os colegas artistas passam a nos enxergar em um outro patamar. Eu acho isso fantástico! É com profunda alegria e honra que eu recebo esse prêmio. É uma premiação diferente daquelas que a gente está acostumado a receber. Porque, é como se dignificasse a nossa carreira!

Discografia – Todos os premiados do Grão de Música terão uma música registrada numa coletânea que é disponibilizada em plataformas de música e em um CD distribuído para algumas entidades e formadores de opinião. Queria que você dissesse que música sua vai entrar para essa coletânea e que você contasse a história dessa composição.
Aparecida Silvino – A música escolhida por eles é Não estamos sós, faixa 05 do CD Sinal de Cais! Letra e música minha! Outra grande alegria aí no detalhe. Porque como você sabe, eu sou melodista. São poucas as canções que registradas que são letra e melodia minhas! Eu gravei o CD Sinal de Cais em setembro de 2011. Em janeiro de 2012, essa música chegou, eu reuni os músicos, voltei lá no estúdio do Adelson (Viana), e a gravei. Essa canção nasceu depois que eu li um livro e uma imagem mais forte desse livro ficou na minha cabeça. Era uma imagem que conta que a nossa história de vida pode ser vista como um quadro que a gente cola na parede. E, naquele momento, eu estava em profunda gratidão pela história de vida, resiliência, conquistas que estavam acontecendo, sabe? Então é isso!

Discografia – Como funciona esse prêmio, como foi a inscrição, seleção, etc?
Aparecida Silvino – Entraram em contato comigo em março, antes do isolamento social, me pediram que mandasse release, histórico, e os meus discos. Que eu tinha sido indicada para o Prêmio Grão de Música! Fiquei na alegria, nossa! Aí, mais tarde, eles disseram que eu estava dentro da relação. Até então fiquei feliz. Ponto. Quando eu vi de fato meu nome ali naquela lista junto com os outros artistas, menino, fiquei tão feliz! Bem encantada! Muito bom, sou muito grata!

Discografia – Você já tem mais de 30 anos de carreira como artista, cantora, compositora, produtora e formadora de novos músicos. O que essa experiência te ensinou de mais importante para lidar com os sabores e dissabores da carreira artística?
Aparecida Silvino – Olha, pode até parecer estranho, mas o que eu adquiri nesse tempo todo foi paciência, acredita? Porque, a música vai ensinando, né? Tem os compassos, a estrutura, o tempo, a harmonia! Nunca se faz música sozinho! Então se aprende paciência! As músicas que a gente compõe são como filhos, sabe? Cada um tem sua história! Elas seguem pro mundo e, de repente, esses filhos eles viram gente grande, né? São amados pelas pessoas, pessoas levam os nossos filhos pra casa tem memórias afetivas com elas. É tão bonito de ver, tão bonito enxergar isso e ver isso acontecer! É fascinante. eu gosto. Acho interessante. Isso me acalma por dentro e me dá força pra continuar fazendo música.

Discografia – A julgar pelo que você acompanha no Canto da Apá, centro cultural por onde passam novos aspirantes à vida artística, o que muda das novas gerações de cantores em comparação a quando você começou?
Aparecida Silvino – Eu ouso acreditar que tudo é muito mais fácil porque a tecnologia auxilia, sabe? Por que o ensino está muito mais fluido. De tudo e às vezes a pessoa chega com uma ansiedade desmedida que pode atrapalhar na vida. Mas, aí o professor chega e tranquiliza, o terapeuta tranquiliza, sabe? O fazer música juntos tranquiliza. O sair um pouco da competição tranquiliza. Então, o dia a dia que é muito mais fácil. Fazer música é muito tranquilo, apesar dos estereótipos, né?

Discografia – Como você se avalia como intérprete e como compositora? Alguma dessas atividades te dá mais prazer?
Aparecida Silvino – Tudo equilibrado. Gosto de interpretar, de compor, de ensinar, de reger, de tocar! Gosto de tudo. De me melhorar todo dia pra ser um instrumento melhor.

Discografia – Bem no início da pandemia, você chegou a aderir ao modelo das lives e depois interrompeu. O que achou dessa experiência de cantar para um público virtual?
Aparecida Silvino – Eu amei fazer as lives. Depois da primeira live, eu quase enfartei, é verdade. Eu admito. Mas depois disso eu criei gosto e amei fazer as lives. E, principalmente, a gente aqui em casa estava passando por um problema sério de saúde com a minha irmã e eu fazia live às 18 horas e rezava, e tinha muita fé naquilo ali. Acreditava muito que ia dar certo e graças a Deus deu certo. Ela está curada e eu parei meio que de cantar porque o meu teclado quebrou. Estou comprando outro agora. Acredito que, entrando setembro, a gente pode cantar todo dia na internet feliz da vida!

Discografia – Quais são os planos para depois da pandemia?
Aparecida Silvino – O céu é o limite. Esse tempo de isolamento me permitiu ouvir muitas pessoas, ler livros, conversar com artistas que estavam na sala de casa. Tudo é possível. Eu quero realizar encontros, como minha música, sabe? Ser grata a quem tá por aí cantando ela. Ensinar o que estiver ao meu alcance. É isso! Trabalhar muito e ser bem música e bem feliz!

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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