Pedro Martins e Michael Pipoquinha. Foto: Dani Gurgel/ Divulgação

Essa história começa em 2016, num desses acasos que só a música pode proporcionar. O baixista cearense Michael Pipoquinha estava na Suécia quando alguém falou que ele precisava conhecer um guitarrista de Brasília chamado Pedro Martins. Enquanto isso, do outro lado do globo, o produtor Ivan Capucho foi a um bar na capital brasileira e viu Pedro tocando com sua banda. Poucos dias depois de voltar ao Brasil, Michael recebeu uma ligação de Ivan com uma proposta: um show dividido Pedro no Festival Choro e Jazz, que acontece anualmente em Jericoacoara.

O primeiro contato entre os músicos aconteceu no salão do aeroporto, um dia antes da apresentação. “Foi questão de duas frases e eu já saquei que a gente se conhecia de muitas vidas passadas. O jeito dele me parecia uma coisa muito familiar, como um irmão”, resume Pedro que aponta aquele show como um dos mais importantes deles. “Foi aquela surpresa inexplicável. A conexão era tão grande que quando um dizia que ia pra um lugar (na música), o outro já estava lá”. O misto de talento, intuição, afinidade e amizade rendeu um duo que seguiu junto tocando pelo mundo e se cristaliza em disco que será lançado nesta quinta-feira, 29, às 21 horas com uma apresentação virtual pelo Youtube.

Produzido por Capucho, o disco não poderia ter outro nome: Cumplicidade. “Os encontros são assim. Por que quando tem que conhecer alguém, acontece da melhor forma. O disco é uma realização de um sonho”, celebra Pipoquinha adiantando que o repertório foi formado de homenagens a amigos, canções que aprenderam na estrada e tudo aquilo dá prazer de tocar. Tem Cartola (Desfigurado), Dori Caymmi (com Paulo César Pinheiro, Ninho de vespa), Dominguinhos (com Anastácia, Desilusão) e Hamilton de Holanda (A vida tem dessas coisas), entre outros. Mônica Salmaso, que se convidou para o disco, canta Bolero de satã (de Guinga e P.C. Pinheiro) com elegância soberana. Outro convidado do disco é Toninho Horta, autor da inédita Mr. Herbie e de Raul – nesta última, o mineiro não se contém e solta: “Esses garotos são um absurdo”.

Não dá pra discordar do mineiro. A trama de dedilhados, notas ágeis, ideias sonoras é digna dos grandes mestres. A intimidade permite que eles se completem musicalmente, extraindo de baixo e guitarra um som sólido, potente e indivisível. “O Pipoca toca baixo, mas é só um acidente. O instrumento dele é a música. Ele transcende. Do jeito que ele toca baixo, você ouve violão, percussão, sopros… Tocar com ele é muito fácil. Ele faz harmonia, melodia, solo, tudo”, elogia Pedro Martins. Michael devolve o mesmo sentimento e conta como o repertório de Cumplicidade foi sendo montado a partir de memórias, viagens e histórias em comum.

Reconhecido como um fenômeno no baixo, Michael Pipoquinha, de 24 anos, é natural de Limoeiro do Norte e nasceu vendo o pai tocar em bandas de forró. Também neto de sanfoneiro, ele se atraiu cedo pela música e aos 15 lançou um disco produzido pelo mestre Arthur Maia. Entre muitas viagens com seu projeto solo, o cearense ainda se apresenta com Fafá de Belém, Elba Ramalho e Mestrinho. Pedro Martins, 26, também tem no pai sua primeira influência. Influenciado por Beatles, Beto Guedes, Led Zeppelin e Ataulfo Alves, ele vem de uma escola bem eclética, mas já passou pela fase de só querer ouvir música instrumental. Ex-diretor musical da cantora Ellen Oléria e integrante do Teatro Mágico, ele tem no currículo um primeiro lugar no Socar Guitar Competition, competição de guitarristas promovida pelo Festival de Jazz de Montreux, e um convite, que partiu de ninguém menos que Eric Clapton, para participar do Festival Crossroads de 2019.

Juntos, Michael e Pedro tinham uma agenda de shows marcados para o lançamento de Cumplicidade, mas tiveram que suspender por conta da pandemia. Ficou tudo para 2021. No entanto, os trabalhos não param. Radicado há cerca de 10 anos em São Paulo, Pipoquinha tem dois trabalhos em vista. Um deles é um disco solo, só com seu baixo. O outro é com banda completa e convidados. “É um disco diferente, com parceiros letristas. Tem a Bruna Morais, que é uma super cantora e compositora aqui de São Paulo, e duas músicas com o Matu Miranda, que é aí de Fortaleza”. Pedro também está cheio de planos e segue produzindo os novos discos do seu parceiro e conterrâneo Daniel Santiago e do guitarrista norte-americano Kurt Rosenwinkel. “Tem ainda um disco com uma big band da Suécia”, revela.

Serviço
Quando: Hoje, 29, às 21 horas
Onde: canal no Youtube de Michael Pipoquinha e Pedro Martins
Aberto ao público
Preço do disco: R$30

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles