Desde o dia 30 de novembro, quando foi levado à UTI para tratamento de covid-19, várias notícias falsas sobre a morte de Genival Lacerda se espalharam. Infelizmente, essa notícia se tornou real hoje. Aos 89 anos, o forrozeiro irreverente e desbocado morreu, em Recife, nesta quinta-feira, 7.

Mesmo fora dos holofotes há algumas décadas, é quase impossível que algum brasileiro adulto não tenha sequer um vaga ideia de quem seja Genival Lacerda. Sejam suas músicas de duplo sentido, sua dança debochada, ou seu figurino colorido, tudo no intérprete de De quem é esse jegue era marca registrada.

Muito autêntico no que fazia, ele era um ícone nordestino que, em mais de 50 anos de carreira, se negava a largar os palcos. E teve reconhecimento. A sofisticada Marisa Monte gravou Severina Xique Xique no seu disco de estreia, assim como Zeca Baleiro o convidou para um dueto em O parque de Juraci, do álbum Por onde andará Stephen Fry (1997).

Por falar em deboche, Genival Lacerda encontrou o bregastar Falcão em 1998, no projeto Casa de Forró. Juntos, eles cantaram Forró cheiroso, do clássico refrão “talcú no salão”. No ano seguinte, foi a vez dele encontrar a grande Marinês no disco 50 anos de forró, onde se divertiram com o Forró do Beliscão.

Segundo lista divulgada pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), é justamente a história da moça humilde que passou a ser cortejada pelos rapazes do bairro depois de ter sucesso com sua butique a música mais tocada e Genival Lacerda. Já gravada por nomes como Luan Estilizado e Nando Reis, Severina Xique Xique vem antes de Quem dera (2º lugar), Mate o véio (3°), Galeguim do zói azul (4º) e Caldinho de mocotó (5°) no top5 do paraibano de Campina Grande.

Confira a lista completa divulgada pelo Ecad:

1. Severina xique-xique (Genival Lacerda/ João Gonçalves)
2. Quem dera (Nando Cordel/ Genival Lacerda)
3. Mate o véio mate (Genival Lacerda/ João Gonçalves)
4. Galeguim do zói azu (Genival Lacerda/ João Gonçalves)
5. Caldinho de mocotó (Cecílio Nena/ Genival Lacerda/ Niceas Drumont)
6. Filha de mané Bento (Genival Lacerda/ João Gonçalves)
7. Currupio (Genival Lacerda/ José Marcolino)
8. Tô te amando nenê (Cecílio Nena/ Genival Lacerda)
9. Paraíba apaixonado (Cecílio Nena/ Genival Lacerda)
10. Não despreze seu coroa (Severino Ramos/ Genival Lacerda)
11. No balanço da fogueira (Genival Lacerda/ Niceas Drumont)
12. Amor coado (Nando Cordel/ Genival Lacerda/ Niceas Drumont)
13. Calango do fuá (Téo Azevedo/ Genival Lacerda)
14. Fio dental (Genival Lacerda/ Jorge de Altinho)
15. Tem quem reze por mim (Genival Lacerda/ João Gonçalves)
16. Festa só em gameleira (Genival Lacerda/ Parafuso)
17. Seo Zé – Severina xique-xique (Carlinhos Brown/ Genival Lacerda/ Marisa Monte/ Nando Reis/ João Gonçalves)
18. Um matuto em Nova York (Genival Lacerda/ João Caetano)
19. Taturana (Cecílio Nena/ Genival Lacerda)
20. Boiola (Téo Azevedo/ Genival Lacerda)

Muitas dessas canções, que fizeram o Brasil rir por décadas, eram feitas de preconceitos, ofensas a minorias e muito objetificação do corpo feminino. Aliás, seus discos de mais sucesso traziam na capa, quase que obrigatoriamente, belas mulheres exibindo seus corpos. Nenhuma delas era cantora, estavam ali somente pela beleza. O tempo ajuda a separar o que dessa memória do compositor merece ficar como referência, uma vez que uma parte delas focava numa malícia (até certo ponto inocente), no duplo sentido e no humor, mesmo que incorreto. Nem tudo que chamam de duplo sentido tem, de fato, dois sentidos. Tirando esse filão, que segue sendo explorado com boas doses de baixaria, Genival Lacerda foi um sobrevivente, que se construiu por conta própria e tornou-se maior que a própria obra.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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