O ano acabou há pouco e é daqueles que rezávamos pra chegar vivos no final, como uma corrida de Fórmula 1 com carros sem a mínima segurança. Eu venci o covid-19 com poucos sintomas, uma ligeira falta de olfato e paladar e, felizmente, nada mais grave. Diante de tudo o que vimos e continuamos a ver enquanto não chega a sonhada vacina, foi o melhor pra mim do ano que queremos esquecer.

Aqui o assunto é música e como em 2020 tivemos – a contragosto – muito tempo livre, ela nos preencheu como em nenhum outro tempo, que eu lembre. Como todo fim de ano sempre temos as lista de melhores, piores e outras, resolvi fazer a minha.

Nos primeiro mês da pandemia, ainda procurando o que fazer, resolvi organizar minha coleção de CDs e vinis. Claro que fiz isso regado a audição musical e as redescobertas foram inevitáveis. Um bom App que indico pra quem quer catalogar seus discos é o Discogs que funciona (se você quiser ) como uma rede social pra maníacos, como eu, por exemplo. E você pode compartilhar sua coleção entre os membros (pra visualizar, claro…), comprar, vender, pesquisar, etc…

Nem preciso dizer que considero Stevie Wonder o maior gênio musical vivo e reouvi sua obra diversas vezes. Duas músicas ouvi e ouço, diariamente: For your love, lançando no ótimo e subestimado álbum Conversation Peace, com refrão forte, logo de cara apresentado e depois trabalhado magistralmente nas suas quatro tonalidades (Ré a Fá), e a voz cristalina do Sr. Maravilha.

Knocks me on my Feet, do clássico álbum Songs in the key of Life é uma pérola escondida com melodia e letra bem casada e um refrão que gruda. Tem uma ótima versão do cantor de R&B Luther Vandross, mas comece pela original…

https://www.youtube.com/watch?v=RbSZeijqLTc

Um dos vícios que criei foi escutar as rádios dos app de streaming, no meu caso o Apple Music. Você descobre muita coisa legal e aí foi onde achei o single de 2020 – A Little Soon to Say, do cantor e compositor americano Jackson Browne, que quase ninguém conhece no Brasil, e pode ser colocado no mesmo patamar de James Taylor, John Denver fazendo aquele bittersweet rock americano. Com ajuda do editor desse blog, o Marcos Sampaio, adquiri o LP Running on Empty também do Browne onde a faixa título, um rock-estrada me foi muito útil nas pedaladas na beira-mar.

Na rádio, também matei saudade da rainha do rock tupiniquim Rita Lee no ótimo disco com o Tutti Frutti Entradas e Bandeiras, com destaque para o rock dançante Corista de Rock e a bela balada Coisas da Vida, com linda melodia, harmonia e a poesia:

Quando a lua apareceu
Ninguém sonhava mais do que eu
Já era tarde
Mas a noite é uma criança distraída

Na área do R&B, Soul, Hip Hop, influenciado pela minha namorada pesquei algumas:

Alicia Keys com o single radiofônico de 2020 Underdog é pop da melhor qualidade, embora me lembre bastante uns trechos de outro hit pop de 2009, Looking for Paradise, de Alejandro Sanz com participação dela mesma.

Solange (não é a ex-Aviões…) Knowles foi uma grata descoberta com a maravilhosa T.O.N.Y. Que não faria feio na voz de uma Aretha Franklin ou Diana Ross.

Outra pedrada é a banda britânica New Mastersounds, do final dos anos 1990, que mistura jazz fusion com funk e soul e apesar de ser instrumental, vez  por outra convida uma voz em seus discos. Foi o caso da bela voz de Corinne Bailey Rae com o pop soul que você põe no “repeat” de tão gostosa que é Your Love is Mine, que tem além disso ótimas guitarras e groove bem relaxante.

Fechando, tem a americana Macy Gray, que em 2012 fez um tributo aos 40 anos do clássico disco de Stevie Wonder Talking Book. Eu considero um a missão quase impossível melhorá-lo, mas ela se saiu bem sem muitas pretensões como na versão de Superstition, que ficou mais relaxada que a original e com isso ganhou em charme.

Considero Sting e Peter Gabriel os representantes maiorais de um pop mais cerebral e não podiam ficar fora da lista… Sting lançou em 2016 o disco mais básico 57& 9th, com o pop chiclete One fine Day se destacando e a bela e hipnótica Inshalah de influência árabe e que significa “Se Deus quiser”. De Peter, ouvi muita coisa mas adquiri o LP Up, de 2002, e é impossível não se apaixonar pela linda Sky Blue, com participação vocal dos incríveis Blind Boys from Alabama.

Ouvi também, lançado recentemente, o Paul McCartney 3 e gostei bastante, apesar de não destacar ainda nenhuma faixa em especial.

Outro lançamento que merece destaque de 2020 é do nosso Raimundo Fagner, Serenata, um disco com uma singeleza nos arranjos e interpretações. Músicas como Deusa da minha Rua e o dueto póstumo com Nelson Gonçalves na faixa título merecem uma audição cuidadosa.

Aqui da terrinha, nossa eterna musa rocknroll Mona Gadelha nos presenteou em novembro passado com o pop fim de tarde, que convida a dançar Essa Menina, uma grata supressa após ter feito uma releitura recente do seu hit Cor de Sonho, com feat de Verónica Valenttino, o qual tive o prazer de produzir.

O jovem mestre da sanfona Nonato Lima lançou essa semana seu single Baião de Luz, tema vigoroso onde mostra o porquê do seu talento ser reconhecido mundo afora. Destaco nela também o belo solo de violão de Stenio Gonçalves. A música é uma homenagem ao mestre Toninho Horta, que esteve conosco ano passado no Festival Cocoricó, e que recentemente foi agraciado com o seu primeiro Grammy.

O saxofonista carioca, radicado em Fortaleza, Márcio Resende também lançou seu recente single Amor em Paz (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), que faz parte de um disco que gravou entre Nova Iorque e São Paulo. Sua versão desse clássico merece respeito com seus 8:11 de pura musicalidade.

Outras audições de destaque relaciono aqui para os mais curiosos:

  • Camila Marieta (América feat. Jeniffer Nascimento)
  • Luiza Nobel (Estamos Bem)
  • Darryl Hall & John Oates (Kiss on my list)
  • Passenger (Somebody’s Love)
  • João Gilberto (Rosa Morena)
  • Miles Davis (Milestones/ Someday my Prince Will Come/ Tutu)
  • Bareboim/ Perlman/ Zuckerman (J.S.Bach Violin concertos)
  • The Beatles (Martha my DearJulia)
  • Steely Dan (tudo deles…)

Boa audição e um feliz 2021 com vacina e saúde pra todos.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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