Indicações para o retorno das aulas presenciais sugerem distanciamento mínimo seguro e higienização constante dos espaços escolares.

Por Ítalo Corrêa

Após meses com atividades remotas devido ao Covid-19, escolas no país inteiro começam a planejar um possível retorno das aulas presenciais no segundo semestre do ano letivo. Diversas entidades de ensino e órgãos governamentais vêm debatendo ao longo dos últimos meses quais diretrizes devem ser seguidas para garantir a segurança dos alunos, professores e funcionários nas escolas em uma eventual retomada das atividades escolares.

Entenda quais os protocolos que farão parte da nova realidade das escolas em um cenário de pandemia.

A questão não é quando, e sim, como

Ainda não há uma data estipulada para o retorno das aulas em todo o país, pois as escolas dependem de decretos que variam de acordo com a realidade de cada estado e município. Alguns estados lançaram calendários parciais de retomada das atividades presenciais, mas todos estão sujeitos a revisões conforme o avanço do vírus. Em Goiás e Tocantins, por exemplo, há a possibilidade de retorno em agosto. Já em São Paulo e no Acre, a previsão de reabertura das escolas é só em setembro.

Apesar disso, órgãos como a Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) já divulgaram protocolos e medidas sanitárias que devem ser seguidos para que um eventual retorno das atividades escolares seja feito com a maior segurança possível. Tais documentos foram elaborados com base em pesquisas divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, foram seguidos os exemplos de outros países cujas escolas já retomaram as aulas presencias.

Dentre as principais recomendações que são consenso em todos os documentos, destacam-se o distanciamento social – com salas reorganizadas para que seja garantido o distanciamento mínimo de 1 metro entre alunos, uso de máscaras, medição de temperatura e a higienização frequente dos ambientes da escola. Outra indicação importante é de que a retomada das aulas seja feita de forma gradual e priorize um modelo híbrido de ensino. Ou seja, devem-se mesclar aulas à distância com aulas presenciais, com o objetivo de evitar aglomerações na sala de aula.

Rotinas de revezamento dos horários de entrada, saída, recreação, alimentação e demais deslocamentos coletivos dos estudantes no ambiente escolar também serão novas práticas adotadas. Além disso, medidas pedagógicas, como reposição de aulas em sábados ou turnos alternativos, devem ser avaliados. Assim como a prorrogação dos calendários de atividades para o período de férias ou para o ano seguinte.

Retorno das aulas presenciais para a Educação Infantil primeiro

A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal elaborou, em parceria com a Consed, um documento com diretrizes de volta às aulas específico para a educação infantil. De acordo com o texto, as crianças da pré-escola devem retornar primeiro por dois motivos. O primeiro é porque os médicos afirmam que, quanto mais velha a criança, maior a maturidade do sistema imunológico. O segundo é que a legislação educacional traz obrigações de calendário para a pré-escola, etapa obrigatória, diferentemente da creche que é uma opção das famílias.

retorno das aulas presenciais

Beatriz Abuchaim, mestre e doutora em Educação. Foto: divulgação.

Beatriz Abuchaim, gerente de Conhecimento Aplicado da fundação, destaca três fatores que devem ser considerados para que esse retorno seja feito de forma efetiva.

“É importante analisar os procedimentos sanitários, o planejamento pedagógico, e a questão do acolhimento emocional – que passa primeiramente pela gestão do município ao lidar com os profissionais das escolas, os pais e os próprios estudantes”, explicou a especialista.

 

Ainda conforme Abuchaim, em termos pedagógicos, a aula presencial é extremamente importante para o aprendizado na educação infantil.  “O currículo da educação infantil é pautado nas interações. As crianças pequenas não aprendem só pela explicação, elas aprendem por meio de experiências concretas. É importante que as crianças tenham esse contato, desde que haja a devida segurança.”, explicou.

Rede Privada

A adoção das medidas preventivas na rede privada das escolas é de responsabilidade de cada instituição, pois cada unidade de ensino tem particularidades específicas que devem ser consideradas. Diversas instituições de ensino inclusive estão elaborando suas próprias diretrizes que contemplem suas necessidades.

O Sesc lançou em julho um documento para a volta às aulas na sua rede de ensino que mantém 213 unidades escolares espalhadas por todas as regiões do país. O protocolo sugere uso de espaços ao ar livre das escolas e indica que em casos de contágio por coronavírus, o estudante deve ser encaminhado a um espaço previamente reservado para acolhê-lo

retorno das aulas presenciais

Para o Sesc, os cuidados com a saúde devem balizar todas as atividades curriculares nesse novo contexto. Foto: Reprodução.

A gerente de Educação do Sesc, Cynthia Rodrigues, afirma que o Sesc não tem data unificada para volta às aulas, porque isso depende da realidade local de cada unidade.

“Não deve haver precipitações, pois é possível que as aulas retornem e sejam canceladas novamente. Por isso é importante que haja um acolhimento por parte de todos os profissionais da educação, garantindo assim, que os estudantes retornem com máxima segurança”, afirmou a gerente.

A profissional ainda destacou que o atual momento é de adaptação em termos pedagógicos. “É uma situação complexa, deve ser avaliado o que gerou resultado no período de isolamento. Tivemos uma preocupação com que todos os estudantes tivessem acesso à plataforma de ensino que estava sendo utilizada”, explicou.

Além do protocolo, o Sesc também produziu uma serie de materiais sobre como tratar a educação em meio à pandemia e que podem ser acessados em seu site.

O ensino hibrido continua

O Colégio Albert Sabin, localizado em São Paulo, vem mantendo suas atividades remotamente desde o início da pandemia. Segundo a mantenedora do colégio, Cristina Godoi, a ideia é que todos voltem às aulas presenciais conforme o calendário da Secretaria de Educação.

Deve ser adotado um sistema de rodízio e com número reduzido de dias por semana. “Seguindo os princípios de distanciamento social adequado a cada faixa etária, redução de mobilidade, garantia de desinfecção dos ambientes e controle e acompanhamento de saúde, conseguiremos garantir uma volta tranquila e segura.”, afirmou Godoi.

Para os pais que optaram por não aceitar o retorno das aulas presenciais nesse primeiro momento, o colégio manterá lives com outros professores, em pequenos grupos ou até individuais, podendo variar de acordo com a necessidade de cada aluno. “No Colégio, já tínhamos uma proposta de ensino híbrido e com a pandemia, formamos nossos professores em novas ferramentas, o que nos proporcionou mais oportunidades de aprimoramento das aulas.”, explicou Dioneia Menin, coordenadora pedagógica do Ensino Infantil e Ensino Fundamental da instituição.

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Para ler mais conteúdo sobre a educação durante a pandemia, acesse nossa seção de reportagens.

 

About the Author

Eduardo Siqueira

Um jornalista que ama Educação. Minhas experiências me fizeram imergir no universo da Educação, sentindo todo o seu poder transformador e percebendo o quanto ela ainda precisa de apoio. Aqui, busco fazer minha parte e ajudar as pessoas a compreendê-la nem que seja um cadinho.

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