Escolas, redes e sistemas de ensino de todo o Brasil já caminhavam no processo de digitalização do ensino quando a pandemia chegou. Agora, é o momento de consolidação.

Digitalizaçãod o Ensino

Vídeoaulas são importante recursos digitais educacionais nesse momento de aulas remotas. Foto: Reprodução.

Há praticamente um ano, escolas de todo o Brasil passaram a viver um grande desafio: manter os alunos em casa e continuar promovendo o ensino e a aprendizagem. O ano de 2020 potencializou um movimento já em curso: a digitalização do ensino. Isso significa trazer cada vez mais recursos digitais para a sala de aula – em alguns casos, apenas eles – para promover uma aprendizagem pautada na tecnologia e aderente às novas tendências globais, bem como ao comportamento das novas gerações e ao desenvolvimento de habilidades necessárias para os tempos atuais.

A aceleração da inserção de REDs – recursos educacionais digitais – na sala de aula foi sentida por redes e sistemas de ensino que, tradicionalmente, embasavam seus conteúdos em materiais didáticos físicos.

“O que antes podia ser um desafio ou um obstáculo, agora virou uma possibilidade. E o que percebemos são alunos e professores com seus níveis de letramento digital mais avançados e entendendo que esse é um caminho facilitador, importante e, nesse momento, fundamental para esse novo normal híbrido na Escola. O que antes da pandemia poderia ser ainda estudo e teoria, passa a ser necessidade e prática diária para todos os atores da cena escolar”, reflete Marileusa Guimarães de Souza, Coordenadora Pedagógica da Área de Informática Educativa do Sistema Positivo de Ensino.

Nesse cenário, as escolas parceiras tiveram que abraçar o ensino remoto e passaram a utilizar ferramentas de realidade ampliada, conteúdos multimídia, salas virtuais, PDFs interativos, livros digitais, videoaulas, entre outros.

Para a educadora, o maior foco dos educadores deve ser o planejamento e a construção da intencionalidade dos recursos digitais em sala de aula, além de manutenção de um olhar cuidadoso ao orientar os estudantes sobre o uso correto, ético e legal das tecnologias.

Ainda nesse contexto, diversas empresas surgiram para fortalecer esse movimento de digitalização do ensino. Uma dessas experiências é a Cloe, uma plataforma educacional que propõe a instituições públicas e privadas deixarem de lado o modelo educacional tradicional baseado somente em uso de livros físicos e de cima para baixo, ou seja, com professor direcionando conteúdos para os alunos.

A plataforma traz todo o conteúdo programático do Ensino Básico em formato digital, assim como propostas de projetos educacionais. Assim, os estudantes resolvem problemas da vida real utilizando esse conteúdo de maneira ativa, permitindo o  desenvolvimento de habilidades que vão além do conhecimento de conteúdos nas diversas áreas do conhecimento.

O que estamos fazendo de diferente hoje é aquilo que sabemos que é necessário na educação da nova geração: o estudante aplica os conteúdos na resolução de problemas da vida real junto com outros estudantes, ao invés de apenas aprender conteúdos sozinho – e o professor atua como um facilitador desse processo”, comenta Fernando Shayer, mestre em educação pela Universidade de Columbia e fundador da Cloe.  

Para o empreendedor e educador, “em um mundo cada vez mais digital, não faz sentido o estudante comprar, carregar na mochila e depois colocar numa prateleira para nunca mais consultar, pilhas imensas de apostilas.  Isso é passado: conteúdo antigo, desatualizado, pesado, prejudicial à Natureza e, principalmente, ultra caro. Menos investimento em apostila leva a mais investimento em aprendizagem que importa, é a tecnologia que hoje permite essa migração”.

Nesse modelo, tanto o aluno quanto os professores têm acesso aos conteúdos didáticos do próprio celular, basta que se tenha acesso à internet.

Os benefícios da digitalização do ensino

Para além do baixo consumo do papel, escolas que optem por soluções digitais também abrem mão de processos logísticos, uma vez que elas precisam disso para receber seus materiais.

No caso de plataformas inteiramente digitais, como a Cloe, comenta Shayer, “a escola faz um investimento menor quando comparado ao feito com aquisição, transporte e armazenamento de materiais didáticos impressos.

Além disso, plataformas digitais permitem o acesso a dados de aprendizagem que viabilizam intervenções pedagógicas personalizadas, como também formação de professores em larga escala. Vale citar também a possibilidade de acesso a mídias distintas, como vídeos e áudios, que, quando utilizados da maneira adequada, facilitam o processo de aprendizagem.

Já a professora Marileusa aponta como um os principais benefícios da cultura digital na escola “a possibilidade de o estudante estar em rede, participar de comunidades de aprendizagem e não ficar isolado, restrito à sala de aula, ampliando, assim o seu repertório e suas possibilidades de aprender e potencializar seu processo de aprendizagem”.

Por sua vez, a professora Magda Sena, coordenadora pedagógica do Fundamental Anos Iniciais do Colégio Darwin de Fortaleza, entende que “o fluxo de ensino e aprendizagem perpassa por um processo de apropriação das ferramentas disponíveis e uso das diversas possibilidades em um diálogo constante com as famílias, a equipe pedagógica”.

A profissional cearense, que integra um colégio aderente à digitalização do ensino, acredita que o uso dos REDs permite que o desenvolvimento do estudante ganhe em qualidade, interatividade e diálogo com o mundo. Além disso, possibilita que equipes pedagógicas ampliem suas experiências a partir das vivências diárias.

Mas a escola precisa ser vigilante.

Há uma diversidade de perfis, necessidades, dificuldades, e é papel da escola estar atenta para poder adaptar, personalizar da melhor forma possível, entendendo o aluno como um ser único e a família como parceira dessa jornada”, comenta a professora Magda.

Há desafios?

Todo o processo de digitalização do ensino não deve ser feito da noite para o dia. Mesmo um ano atrás, quando as escolas foram obrigadas a adotarem o ensino hibrido, o cuidado teve de ser redobrado.

Toda a equipe da gestão escolar precisa “comprar a ideia” para pô-la em prática de forma efetiva e clara. “No nosso caso, temos um apoio para o uso, a experimentação, treinamentos para utilização de recursos físicos tecnológicos”, exemplifica Magda.

Para além disso, há ainda a necessidade de recursos financeiros para investimento em tecnologia. O problema é que muitas escolas acabaram perdendo parte da sua receita por conta do novo modelo de educação instaurado no ano passado.

A taxa de inadimplência chegou a número preocupantes em alguns estados. Em São Paulo, por exemplo, a taxa de inadimplência chegou a 21,34%. No Maranhão, 30%.

Esse aporte financeiro é importante tanto para a adoção de novos recursos digitais e fechamento de parcerias com empresas desenvolvedoras, como para o desenvolvimento de infraestrutura e contratação de profissionais especializados.

Apesar das dificuldades e independentemente do momento que vivenciamos, a digitalização do ensino tende a ficar e só aumentar, seja por projetos mais consolidados como o da Cloe, seja por experiências hibridas como as vividas por sistemas de ensinos, a exemplo do Positivo, e escolas, como o Colégio Darwin.

 

 

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Eduardo Siqueira

Um jornalista que ama Educação. Minhas experiências me fizeram imergir no universo da Educação, sentindo todo o seu poder transformador e percebendo o quanto ela ainda precisa de apoio. Aqui, busco fazer minha parte e ajudar as pessoas a compreendê-la nem que seja um cadinho.

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