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João Candido Portinari em palestra na Escola Porto Iracema das Artes

 

 

Projeto Portinari, criado em 1979 reúne 5 mil obras e 30 mil documentos sobre a vida e obra do artista plástico que retratou o Brasil e temas universais, como a obras deGuerra e Paz.

Candinho, como era conhecido um dos maiores pintores do século XX e XXI, Candido Portinari, retratou as questões sociais do Brasil em grande parte de suas obras, que hoje estão mergulhadas na contemporaneidade, obras além do tempo, com contextos tão atuais e cheias de histórias. Para guardar a memória e tornar acessível a obra de Portinari, João Cândido Portinari, filho do pintor, iniciou há 36 anos o Projeto Portinari, que tem como objetivo levar ao conhecimento de todos o acervo de mais de 5 mil obras de seu pai, assim como os 30 mil documentos cruzados, tudo para “democratizar a arte de Portinari”.

Em recente palestra na escola Porto Iracema das Artes, João Candido, revelou que está sendo estudado uma futura exposição de parte das obras de Portinari na Fundação Social Raimundo Fagner, que fica localizada no município do Eusébio, contemplando assim um dos pontos do Projeto Portinari, que é levar ao conhecimento de crianças e adolescentes a obra do pintor brasileiro que usou sua arte para contar a história do nosso país.

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João Candido explica que a ideia de começar o projeto surgiu de uma pergunta do biógrafo de Portinari, o jornalista e escritor Antônio Callado: segregado em coleções particulares, em salas de bancos, Candinho se vai tornando invisível, vai continuar desmembrado o nosso pintor, como o Tiradentes que pintou? “Mais de 95% da obra de Portinari estava inacessível à vista pública e isso era uma gravíssima lacuna cultural e artística, porque ele foi um pintor que a vida toda retratou o povo brasileiro. Então eu era professor do Departamento de Matemática da PUC, resolvi largar a matemática pra me dedicar totalmente a isso”, explica João.

A primeira parte do projeto foi o trabalho de encontrar as obras, fotografá-las e documentá-las, foram 25 anos realizando um trabalho de “formiguinha”, segundo João. Aos poucos ele foi encontrando as obras que estavam muito espalhadas, nas três Américas, na Europa, no Oriente Médio, no Haiti, na Tchecoslováquia etc. Após encontrado o acervo, tudo foi catalogado e publicado em 5 volumes, ganhando no ano seguinte uma cronobiografia, uma história ilustrada da vida de Portinari, ano a ano, intitulado Candido Portinari: o lavrador de quadros. Após isso foi pensando na missão do projeto, que era levar essa obra ao conhecimento público.

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Blog entrevista João.

A obra de Portinari não nos proporciona somente formas, linhas e cores, ela é profundamente comprometida com valores sociais e humanos como a fraternidade, o espírito de justiça social, o não à violência por isso pensamos que as crianças e adolescentes deveriam ter esse acesso, pois elas têm uma percepção para imagem muito aguda, até mais que os adultos, por isso criamos o Núcleo de Educação e Inclusão Social doProjeto Portinari que já vai completar 20 anos”, conta João, saudoso pela iniciativa.

Abrangendo também o mundo virtual, foi criado um portal, onde ficam expostos as 5 mil obras e os 30 mil documentos, assim como uma cronologia das criações de Portinari e a história do projeto, como foi o trabalho árduo de pesquisa e catalogação. Tendo trabalho diversos temas como religiosos, históricos, a infância, o trabalho, os tipos populares, a festa popular, os mitos, assim como os retirantes, a vida sofrida do povo naquela época, Portinari fez um grande retrato emocionado e crítico da vida brasileira da época, como relata João. “Portinari fez aquilo que o escritor russo Tolstói disse: Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia, ele começa pintando o que ele vê em volta e vai se universalizando até fazer o Guerra e Paz, que é o tema mais universal de toda a sua obra, a grande síntese de tudo que ele fez”.

Guerra e Paz

Os murais de Guerra e Paz, monumental declaração de amor pela humanidade feita por Candinho e uma das últimas pinturas do artista antes de sua morte, foram pintados na década de 50 e mostram retratos dos dias de hoje. Nos painéis aparece aquela figura clássica de Pietá, a mãe que segura o filho morto no colo, que conversa com a realidade hoje vivida no contexto dos imigrantes na Europa assim como outros temas.

Os murais foram dados de presente pelo Brasil à Organização das Nações Unidades (ONU) em 1957 e sempre houve um grande interesse em expôr as obras ao povo brasileiro que tanto foi retratado pelo artista. Então durante a grande reforma da ONU, e fazendo parte do projeto “Guerra e Paz”, em 2010 os murais foram expostos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e ganhou itinerância nacional e internacional, tendo ganhado exposição no Grand Palais, em Paris, na França. Recentemente, em 8 de setembro deste ano, a obra retornou à Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova York (EUA).

Embora tenha sido pintado a décadas atrás, a obra continua atual, como explica João Candido. “Tem uma parte grande da obra dele que é o retrato fiel do Brasil e tem uma outra parte que é mais do que isso, uma que trata de valores universais”. Tem uma frase de meu pai que é a grande síntese da obra dele: Uma pintura que não fala ao coração não é arte porque só ele, o coração, entende a arte, só o coração nos poderá tornar melhores e esta é a grande função da arte”.

Se no começo de sua trajetória artística, Portinari retratou o povoado de Brodowski onde nasceu, assim como retratos tão regionais, ele encerra seu trabalho com essa obra que expõe diversos temas universais, tornando-se assim, um artista atemporal e universal.

 

 

Texto: Eduardo Sousa | Imagens: Porto Iracema das Artes