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A primeira vez que li Clarice foi um espanto. Tive medo, um receio grande de não entender nada do que estava escrito naquelas páginas do livro que pertencia à Biblioteca Pública aqui da cidade. O primeiro contato com suas obras foi através de seu último livro “A Hora da Estrela”, com a protagonista Macábea, que digamos assim, seria um alter ego de Clarice.  Depois que li, gostei, senti a necessidade de consumir ainda mais suas obras, como se fosse um vício, um vício que estava me fazendo bem, muito bem. Por muito tempo, Clarice foi minha companheira durantes as noites de insônia, hoje possuo quase toda a sua obra, só faltam dois romances e os livros infantis, para completar a coleção inteira de Clarice, sem falar nas obras póstumas, como a biografia, melhores contos ou crônicas. Por isso, pela minha paixão à literatura clariceana, ao meu amor pela literatura, dedico esse post totalmente a essa dama da escrita, tão fascinante, suave e misteriosa.

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Se estivesse viva hoje, Clarice faria 95 anos de idade.  Mas nem a inevitável morte pôde abalar o que viria a ser Clarice Lispector, diversas obras póstumas foram se enveredando, trabalhos e projetos acadêmicos, teses de doutorado, biografias, textos inclusos e coletâneas etc. Muita gente a chama de hermética, eu, concordo com o que ela mesma falou, que não era hermética, porque ela entendia o que escrevia e não fazia isso por questões profissionais, sim por questões humanas, era uma condição que a deixava viva, por isso, não era hermética. Concordo em gênero, número e grau, pois a escrita de Clarice não é para qualquer um, é como se tivesse que ter uma preparação para poder ler, para entender, envolver-se com o tema, com as suas palavras.

Uma notícia recente me deixou muito feliz pela importância do mundo inteiro ter conhecimento sobre Clarice, pela questão da acessibilidade ao seu acervo cheio de mistérios e lindezas. É que uma coletânea de contos de Clarice Lispector (1920-1977), publicada em julho deste ano nos Estados Unidos com o título “The complete stories”, entrou na lista dos 100 melhores livros de 2015 feita pelo jornal americano “The New York Times”. Quem vota são os editores do suplemento “The New York Times Book Review”. As obras não aparecem em ordem de colocação e se dividem em dois segmentos: Ficção & Poesia e Não Ficção.

A editora Rocco planeja publicar a versão nacional de “The complete stories” em abril do ano que vem. O título da versão nacional ainda não foi definido. Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnick, na Ucrânia. Seu nome de batismo era Haia. Ela se mudou com a família para o Brasil em 1922 e aqui ganhou o nome de Clarice. Em sua lista de melhores do ano, o “New York Times” escreve que “a brasileira foi uma das verdadeiras [vozes] autênticas da literatura latino-americana”. O jornal cita como exemplos desses “inovadores” o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), o mexicano Juan Rulfo (1917-1986) e o também brasileiro Machado de Assis (1839-1908).

Em 1997, no ano em que morreu,  na véspera de seu aniversário de 57 anos, Clarice no mesmo ano tinha dado uma entrevista para a TV Cultura, com a ordem de que só veiculasse a entrevista após a sua morte.  Na entrevista, é possível ver uma Clarice pouco à vontade, cansada, no meio do processo de A Hora da Estrela, com seu ar misterioso. Abaixo deixo a entrevista para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de assistir.  É isso aí, viva Clarice, viva!!!

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