O programa Big Brother Brasil tem problemas. Acompanhei quando era mais novo e perdi o interesse na atração nos últimos anos. Não cabe aqui discutir suas devidas inconformidades, e nem é este o objetivo. O programa conhecido como meio para bisbilhotar a vida alheia tem sua importância social. A cada ano, personagens polêmicos pelo estilo de vida que levam são os mesmos que trazem debates adormecidos na sociedade.

A eliminação de Laércio, no dia 2 de fevereiro, mostra que o Grande Irmão está atento aos problemas que precisam ser discutidos na tevê e nos círculos sociais. O participante já havia comentado dentro do BBB que é adepto da poligamia e sente atração sexual por mulheres mais novas. Contou que uma de suas namoradas tinha 19 anos – e a namorada dela tinha 17. O ponto de virada se deu no momento em que a jornalista Ana Paula, machista declarada, se viu brigando com o concorrente, gritando palavras como “velho, nojento e pedófilo”.

Não deu outra. O assunto virou pauta de conversas diárias em grupos de WhatsApp, redes sociais e até no trabalho. O público se debruçou sobre a vida de Laércio. Internautas reviraram o perfil do curitibano no Facebook, constatando o gosto dele por armas e garotas que estavam vivenciando a puberdade ou há pouco passaram por ela.

No revés do machismo, Ana Paula também foi pauta. Outro dia ouvi uma colega repórter comentar que ela “foi pelas mulheres” ao ser contra os hábitos do participante de 53 anos. Talvez o papel de um programa como o BBB seja justamente esse. Expor as ideias, revirar os conceitos pré-estabelecidos e mudar as peças do jogo de lugar. Vai além quando faz isso dentro e fora do show.

Parei de acompanhar o programa, mas não me distanciei dos debates. Do lado de cá, somos todos observadores e, por mais que pareça, não estamos assistindo de fora. Estamos em um espaço que precisa continuar a descobrir e discutir suas batalhas.

O Grande Irmão está de olho e ele funciona. O Grande Irmão somos nós.

Artigo publicado no Jornal O POVO.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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