Em tempos de crise no cenário político, um cidadão insatisfeito vislumbra um Brasil no qual as diferenças ficaram para trás. Delírios de um Cidadão Inconformado, romance de estreia do economista Luís Eduardo Barros narra os dias do Cidadão que, ao acordar do coma, conta para os amigos o que viu em alguns anos a frente. O livro aponta caminhos para um Brasil mais amadurecido.

Barros tem uma relação antiga com a literatura. Começou a ler aos 10 com as histórias de Monteiro Lobato. Mais tarde, optou pelos filósofos, de Platão a Mario Sergio Cortella, e por autores que enveredaram para a História, como os britânicos Ken Follett e Niall Ferguson. Mas é sobre sua primeira narrativa publicada que o ex-diretor do Centro Industrial do Ceará conversa com o Repórter Entre Linhas. Leia a entrevista completa.

luís-eduardo-barros-júlio-caesar-opovo

Julio Caesar / O POVO

O que o levou a escrever o livro?

Luís Eduardo Barros: É uma forma de contribuir com o debate. Eu queria contribuir com ideias propositivas. Eu acho que não vamos discutir o que não dá certo, porque se for discutir isso ninguém sai do canto. Então, como colocar em uma obra de ficção que torne a coisa mais suave? Uma alegoria sem dizer o que foi feito. Qualquer pessoa pode pegar uma descrição do Brasil do futuro e dizer “isso é bom pra mim ou não?” e o livro de certa forma permite você se imaginar dentro desse Brasil do futuro. Um Brasil com uma economia em quarto, quinto lugar do mundo, com um nível de desigualdade social bem menor por meio da educação.

A educação e a saída?

Luís: Ele (o livro) fala bastante da importância de começar da educação, com a sociedade participando mais do processo educacional. Tem estudos que comprovam que os países que participam mais desses processos têm uma educação melhor. Não adianta querer fazer diferente e achar que vai dar certo. Você tem o direito de fazer diferente, mas não tem o direito de esperar acertar. Sugiro também saídas para mais gente querer ser professor, por exemplo, uma profissão bastante interessante e digna. No final, é um conjunto de coisas que vão se juntando para você ter uma educação melhor, entende? E quando você tem uma educação melhor, as indústrias produzem melhor, o turismo é melhor, a medicina é melhor.

O livro sugere que uma possível resolução dos problemas e o direcionamento errado do País estão em uma espécie de linha tênue.

Luís: Não se preocupe com o que está errado. O livro aponta caminhos para dar certo.

E o que falta para encontrar o caminho certo?

Luís: Eu não quero criar uma discussão do hoje. Eu quero discutir o amanhã. Como economista eu discuto o hoje. Como cidadão eu quero discutir o amanhã. Tem até um personagem que pergunta: “vem cá, e quem é que ganhou no futuro? Foi a esquerda ou a direita?”. Isso não existe mais. Isso é coisa do passado. No futuro, as pessoas querem saber o que dá certo e o que não dá. O que torna a vida das pessoas melhor e o que não torna. Se é esquerda ou direita, não interessa. Infelizmente, no Brasil de hoje, o que interessa é isso. As pessoas não se interessam hoje se a vida vai ser melhor.

O livro tem quatro personagens principais: um homem de direita, uma mulher de esquerda, um trabalhador acomodado e um cidadão que se diz de bom senso. Como você chegou nessas representações do brasileiro?

Luís: Eu quis evitar nomes. Eles não têm nomes. Por isso que a referência começa com letra maiúscula. É o Cidadão. É o Servidor. O Servidor fica preocupado em como vai ser o servidor do futuro. O livro não tem pretensão de verdade. Quero formar uma discussão. Quero levar uma discussão do que pode ser feito para melhorar. Se das coisas do livro nada for feito, mas for substituído por soluções melhores, eu ganhei.

Qual a importância de trazer essa discussão num momento político como o que vivemos?

Luís: Vou citar um exemplo. Tenho uma amiga esquerdista que defende o Lula e compartilha notícias que denunciam apenas políticos do PSDB. Eu não tenho bandido de estimação. O que for errado precisa ser julgado. Não tem o que discutir. Aí vamos ver quem sobra para ser presidente. Eu acho que quem é condenado tem que ser preso. O fato de um político ter feito coisas boas não quer dizer que ele tem o direito de roubar. Tem que acabar com isso. Eu quis propor soluções que não ofendesse determinados grupos. Não é bondade fazer o que não é possível. Bondade é oferecer às pessoas aquilo que é real. Existem coisas que parecem ser direito, mas não são.

É um convite a reflexão.

Luís: Exatamente. E a ação. Como é que faz pra chegar lá? Não adianta um lado ficar impedindo o outro de andar. Assim ninguém vai para lugar nenhum. Você tem que pegar o que é bom de um e o que é bom de outro e anula o que não é bom. É assim que um gestor faz. O livro faz isso de forma sintética para não ficar enfadonho. É um romance, é uma discussão. Só vai melhorar com educação. Com o povo que nós temos não dá para produzir. O problema é que as pessoas aprenderam a ler romance, e não instruções. É por isso que não temos indústria. As pessoas não sabem ler um manual de instruções.

Serviço

Lançamento do livro Delírios Políticos de um Cidadão Inconformado
Quarta-feira, dia 13 de abril, às 19 horas
Ideal Clube – Espaço da Cultura (av. Monsenhor Tabosa, 1381 – Meireles)

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

View All Articles