Há quase dois anos em Portugal, o artista visual cearense Pedro Moreira, 29, se prepara para expôr seus trabalhos, a partir da próxima quinta-feira, 7, no Museu de Aveiro, até o dia 17 deste mês. Na sexta, 8, ele também expõe obras no I Festival Ativista LGBT+ do Porto.

Para a exposição coletiva Ágora, ele separou a obra “30 dias”, uma reunião de trabalhos realizados durante seu mestrado em Criação Artística Contemporânea, na Universidade de Aveiro. Para o Festival do Porto, as obras “Tebas 04: sem título” e “FRIENDS”.

Meu trabalho está inserido em uma tríade: homoerotismo, desejo e militância. O universo masculino me fascina. O corpo masculino me fascina. Conversar com homens é conversar sobre desejo“, diz em entrevista ao Blog.

Pedro conta que a militância surge da necessidade de trabalhar com a homoafetividade, criando novas possibilidades de diálogo como contraponto ao conservadorismo exacerbado que ganha projeção alarmante no Brasil.

Referências fotográficas, screenshots, afetos e histórias o inspiram. “Quando se fala em histórias eróticas, nunca se sabe se o que alguém está contando é verdade ou não, ficamos apenas no universo da imaginação, e é nesse universo de incertezas ao qual se encontra meu trabalho”, revela.

O que é ser homem?

Apaixonado pelas obras de Robert Mapplethorpe (1946-1989), Félix González-torres (1957-1996) e do cearense Heber Stalin, diretor da Cia. dos Pés Grandes, Pedro se diz “filho de uma geração de artistas visuais virtuais” e conta que precisou criar novas estratégias para que o seu trabalho saísse dos scketchbooks (caderno de desenho) e pastas.

“Após a minha primeira exposição em desenho aqui em Portugal, decidi começar um processo de postagens quase diárias nas redes sociais: trabalhos finalizado, processos, materiais, erros e acertos”, relata. O artista usa o Instagram para compartilhar seus desenhos, tanto em seu perfil pessoal (@pedromoreira.art) como no perfil do Manifesto Tebas (@manifestotebas) , que questiona: “O que é ser homem?

Trajetória

Pedro começou no teatro, ainda em Fortaleza. Na Cia. dos Pés Grandes e na Passo D’arte, se dedicou à dança, linguagem que deu suas maiores influências. Só depois vieram as artes visuais. “Foi um desafio pra mim (a mudança), pois o que eu trazia como trabalho artístico era pela dança e o mestrado foca-se em artes visuais”, continua.

“Meus primeiros rabiscos foram em maio de 2017, e foi meio que de surpresa. Precisava desenvolver um trabalho prático para a disciplina de expressão gráfica e decidi começar a desenhar. Não tinha pretensão de continuar, mas não parei até hoje”, conta.

O artista visual já apresentou outros trabalhos em Portugal. Em fevereiro de 2017, se apresentou com a Cia de Dança GEMDA (ex-Companhia de Dança de Aveiro) com o espetáculo “Vazio Contemporâneo”, dirigido pelo brasileiro Claudinei Garcia. Em junho do mesmo ano, participou com desenhos, performance e fotografia na exposição Sala Fria, no Museu de Aveiro. Em outubro, expôs a obra “Todos os Homens”, no Salão de Abril Sequestrado, em Fortaleza.

Pedro continua trabalhando. Por enquanto, do outro lado do Atlântico. “Querer voltar eu quero, mas como as vagas de emprego na minha área não são tão atrativas, vou ficando por aqui”. E segue procurando histórias. Porque, para ele, “ser homem” é poder escutar histórias e relatos de outros homens.

 

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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