Extrapolando fronteiras entre diferentes plataformas e estimulando o consumo de literatura autoral cearense, O POVO lançou o podcast Antologia. Produzido pelos jornalistas Rubens Rodrigues e Isabel Costa, o Antologia integra o projeto Letras&Livros, do Vida&Arte.
O produto, apresentado por Isabel, traz uma proposta diferente: os episódios abrem com a leitura de contos de ficção dos autores convidados seguido por um debate sobre temas relacionados ao universo literário, como mercado, escrita e processo criativo.
Cinco escritores cearenses integram a primeira temporada do Podcast Antologia: Zélia Sales, Antônio LaCarne, Ayla Andrade, Bruno Paulino e Argentina Castro.
Confira alguns trechos dos contos lidos no Podcast Antologia e escute as produções, que foram lidas pela atriz cearense Jéssica Teixeira:
ZÉLIA SALES
https://open.spotify.com/episode/5p78Vht3ZYLv1DhmqQO94a
“Um homem sem mãos e sem rosto, de jaleco branco, de luvas, de máscara, de óculos. O braço pesado. Senti a agulha enorme rasgando minha gengiva, tocando o osso, parecia atravessar meu nariz, o gosto travoso de sangue na boca. Uma lágrima desceu queimando minha cara. Ele não via nada, não sentia nada, conversava com a atendente sobre um garrote que havia nascido na fazenda. O alicate, o puxão, minha cabeça indo junto, um tufo de gaze. “Pronto, a próxima”. Me empurrou pela nuca cadeira afora. Tinha a sensação de que havia um coco dentro da boca”.
ANTÔNIO LACARNE
https://open.spotify.com/episode/0dxriIeLTSmPD2KrCgcSIM
“Em um devaneio espiritual amargo, Arlete havia esquecido como escrever o próprio nome. Após o almoço, dançou sozinha na sala de casa. Já não tinha amantes, não tinha amigos, não tinha filhos ou uma casa bem localizada. Amores pré-históricos revividos mentalmente se transformaram em ilusões no aconchego de seu quarto escuro”
BRUNO PAULINO
https://open.spotify.com/episode/3KGjfLo9fxb7jhk93g32Iy
“As histórias sobre as almas penadas do açude grande começaram há muito tempo, reforçava o velho narrador. Num antigamente que se perdeu. Exatamente no dia em que um casal de crianças, filhos do bodegueiro Zé Lins, Mariazinha e Pedrinho, sumiram misteriosamente dos olhos da mãe zelosa que sempre foi Dona Lúcia”.
ARGENTINA CASTRO
https://open.spotify.com/episode/3wSbJUx61smgZhmYXmJ4F1
“A mãe, que vivia de faxinar as casas de moradores que viviam em condições menos difíceis, tinha uma estatura pequena e os cabelos de um tom amarelado difícil de entender se, pela tinta, se pelo sol. E foi com as mãos puxando os cabelos que recebeu a notícia.”
AYLA ANDRADE
https://open.spotify.com/episode/4E8R7dk8mj2RWMTjLKAn54
“As pessoas ao redor, espremidas do térreo ao quarto andar, não sentem medo. As pessoas ao redor não desejam que o elevador despenque. Aperta o três aí pra mim. Sobe e desce. Bom dia. Eu sinto medo. Ela quase vê o vão do elevador sumir embaixo dos pés. O elevador panorâmico de onde vê-se também o chão abaixo. Sobe e desce. Desce rápido. A música acompanha porque não lhe sai da cabeça.”
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