Quando se tem pressa, qualquer contratempo já é um obstáculo. Em caso de emergência, o tempo de resposta é decisivo para a vida do socorrido. Então esbarrar, em pleno resgate, com uma multidão de mais um milhão de pessoas na frente da ambulância, certamente, pode ser desesperador. Exceto se você estiver em Hong Kong.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento em que uma ambulância precisou atravessar uma larga via, a rua Harcourt, tomada de manifestantes. Segundo a polícia, eram um milhão. Segundo os organizadores, dois milhões. O fato é que, àquela altura, para qualquer um pode ter parecido uma barreira intransponível. Mas, para o veículo, a massa se abriu como o Mar Vermelho no livro de Êxodo, na Bíblia.

As imagens correram o mundo e deixaram a internet em polvorosa. Muitos descreveram como “a cena mais bonita”, outros fizeram exatamente a comparação com a história bíblica de Moisés ao fugir do Egito. O acontecimento se torna ainda mais simbólico ao saber que o carro cortou a multidão em busca de prestar socorro a um manifestante que estava desmaiado.  

Protestos no centro financeiro da Ásia

Já há alguns dias, o território semiautônomo de Hong Kong é sacudido por intensas manifestações contrárias a um projeto de lei que permite a extradição de criminosos para a China. A cidade faz parte da China, mas goza de um sistema político mais democrático e mais liberdades individuais que o regime comunista continental. A condição única faz parte de um tratado entre a potência asiática e o Reino Unido, que controlou a cidade no século XX, mas devolveu aos chineses sob a condição de manter a democracia na região.

Segundo ativistas contrários ao projeto do governo regional, a medida permitiria enviar quaisquer dissidentes considerados subversivos por Pequim para julgamento nas mãos do sistema judiciário chinês, subordinado, via de regra, às engrenagens do Partido Comunista. Desde então, protestantes ocupam as ruas naqueles que são os maiores protestos de Hong Kong desde a década de 80.

O governo já voltou atrás e arquivou o projeto. A líder de Hong Kong, Carrie Lam, chegou a pedir desculpas. O comportamento dos manifestantes no caso da ambulância, apesar de surpreendente, não é exceção. É comum, após os protestos, que participantes limpem as ruas por onde passaram.