Por Sofia Bedê, Fonoaudióloga, Especialista em Voz e Residente em Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Geral de Fortaleza.
Recentemente foi solicitada minha opinião como Fonoaudióloga acerca da influência do uso de tablets e o comportamento infantil. Bem, um tema bastante polêmico e interessante. Polêmico porque se você partir do pressuposto que o uso dos tablets tem aumentado mais ou menos uns três anos aqui no Brasil, fica difícil obter resultados em tão pouco tempo sobre os impactos dessa tecnologia na linguagem infantil. E interessante porque além de terapeuta infantil sou mãe de uma menina de 2 anos – mas que não usa muito tablet. Adicionado a estes fatores, penso que se um pai ou uma mãe entrega um tablet (poderia ser um livro, um quebra-cabeça ou lápis de cor e papel) ao seu niño e o deixa sozinho para usá-lo, é como assistir à TV – em que o telespectador é mais passivo.
O aprendizado da fala requer interação. Não canso de repetir que aprendemos a falar porque escutamos alguém falar. A fala está dentro de um campo bem maior que é a Linguagem. Podemos ter linguagem verbal, gestual, escrita e leitura. Quantas formas existirem com o objetivo de se comunicar. Se não fosse assim, para que terapia de linguagem e estimulo à linguagem alternativa em autistas? Tudo está nos objetivos que você quer alcançar.
Como terapeuta ou como família. Não posso negar que muitos jogos e apps educativos têm algum valor real pela interação da criança com o dispositivo. Muitas Fonoaudiólogas utilizam apps voltados especificamente para terapia de fala e linguagem, obtendo bons resultados. A resposta para o impacto que esta tecnologia causa no comportamento infantil – que deverá vir nos próximos anos – tem que ser pautada em declarações multiprofissionais, como o Neuropediatra, Psicólogo, Fonoaudiólogo e Psicopedagogo.
O mais importante no momento é que os pais verifiquem se o uso do tablet não está afetando outras atividades cotidianas da criança, como ler, dormir e interagir com adultos e outras crianças. Acredito que nada é mais importante do que passar tempo com os pais e pessoas que cuidam da criança.
Querendo ou não, estamos criando a geração pass’n play*. E nós, geração coca-cola, também não fomos questionados quando tínhamos a TV?
*Pass’n play é um termo ainda sem tradução oficial no Brasil, mas que pode significar a ação de “tocar a tela, deslizar o dedo e jogar”, tornando a ação rápida.
Sofia é fonoaudióloga, especialista em voz, e atende em seu escritório colaborativo MOBILE COWORKING
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Bom, já existem uma série de estudos e afirmações a respeito da TV, e das tecnologias em geral, usadas por crianças… e são unânimes: excesso(*) de tv e tecnologia atrasa o desenvolvimento cognitivo da criança. E por quê? Porque a interação acontece num plano abstrato, onde a criança ainda não tem maturidade para isso. A criança vive no concreto, por isso ela tem dificuldade de separar sonho de realidade, outro motivo é que tanto a tv, quanto os aparelhos tecnológicos, trazem “a coisa” pronta, o que não estimula a criança a pensar/criar/imaginar, fora que não desenvolve a motricidade fina, que é primordial para criança aprender a escrever, conhecer seu corpo, e fazer atividades manuais. Vou colocar aqui links de alguns documentários que questionam o resultado da tv na criação/educação/desenvolvimento das crianças, e acho que é válido questionar isso, pois a geração coca-cola questionada sobre a televisão é uma geração que não é estimulada a pensar, questionar, criar; gosta de pegar as informações prontas e mastigadas, e não importa se a informação está pela metade, e é uma geração que tem preguiça de pensar, buscando o tempo inteiro o caminho mais fácil para adquirir alguma informação… Quem trabalha com educação tem se deparado com isso constantemente, quem trabalha com criança e adolescente também.
Muito Além do Peso: https://www.youtube.com/watch?v=TsQDBSfgE6k
A criança é a alma do negócio: https://www.youtube.com/watch?v=49UXEog2fI8
Janela da Alma: https://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg
Is tv bad for kids? : http://news.bbc.co.uk/2/hi/programmes/panorama/6748119.stm
Será que estimulamos demais nossos bebês: http://amaequequeroser.wordpress.com/2013/05/27/sera-que-estimulamos-demais-os-nossos-bebes/
(*) friso que é o excesso, mais de 2h de tv por dia, para crianças com mais de 5 anos, porque existem estudos que já afirmam que não há necessidade e não é interessante tv para crianças com menos de 5 anos. (não consigo achar a pesquisa, mas quando achar posto aqui em outro comentário)
Onde se lê: “A fala está dentro de um campo bem maior que a Linguagem.”
Leia-se: “A fala está dentro de um campo bem maior que É a Linguagem.”
Quero reafirmar que fui questionada sobre o impacto no atraso da fala de uso do tablet em crianças com menos de 2 anos ou um pouco mais. Assunto bem específico.