Por Mariana Amorim (do blog Memórias de Gaveta)*
Com uma trama que aborda uma doença real e degenerativa, a protagonista Ravena Sombra nos apresenta uma história sobre amizade e autoconfiança
Aos dezesseis anos, a maior prova na vida de qualquer adolescente é sobreviver ao Ensino Médio. Encontrar uma turma, ser aceita, ter amigos, ter uma vida social ativa e – acima de tudo – descobrir quem você é. Uma missão tão árdua e difícil quanto manter as boas notas, escolher uma profissão e passar no vestibular. E essa é a vida de Ravena Sombra, protagonista de Fisheye, terceiro romance da autora cearense Kamile Girão. Porém, Ravena terá que enfrentar todos os dramas juvenis com um diagnóstico inesperado: retinose pigmentar, uma doença degenerativa e sem cura que aos poucos irá deixá-la cega.
Publicado pela editora Wish, através de uma campanha de financiamento coletivo, a história de Ravena tem uma narrativa emocionante e envolvente. Kamile Girão apresenta personagens bem construídos e que juntam características bem próprias de sua idade. O livro tem um ritmo constante de leitura, apesar de em alguns pontos, a história parecer um pouco arrastada. Os dilemas de Ravena são verdadeiros e inquietantes. Qual o preço que se paga por ser quem você é?
Ravena tem uma vida comum, com dramas familiares, e busca seu lugar dentro do sistema que está inserida. É a típica adolescente de dezesseis anos que deixa de lado muita coisa de sua personalidade para ser aceita e inclusa em um meio. Porém, toda a aparente perfeição da vida de Ravena é abalada quando ela é diagnosticada com retinose pigmentar, uma doença sem cura que degenerará a sua visão gradativamente.
A partir daí, o mundo de Ravena vira de cabeça para baixo. A jovem terá que descobrir outra maneira de viver e de se relacionar com o próximo e consigo mesma. Ravena terá que aprender a aceitar suas limitações e encontrar seu lugar ao sol. A história tem uma aula de autoconheciemento e, principalmente, de amizade. Ravena encontrará porto seguro em uma velha polaroid com nome de música dos Beatles. A jovem vai entender sobre as peculiaridades de cada um e como isso interfere diretamente em quem somos.
Um dos pontos altos da leitura é que a história de Ravena se passa em Fortaleza. A cidade pulsa como plano de fundo e é possível identificar vários lugares como a Praia de Iracema e o antigo Fafi. Isso acaba gerando uma proximidade maior entre leitor e personagem. Outro destaque é Micael, melhor amigo de Ravena, um dos personagens mais bem construídos e apaixonantes da trama.
Em resumo, Kamile Girão trouxe com sensibilidade temas tão relevantes para os jovens. Principalmente, sobre aceitar quem você é. A história de Ravena é emocionante. A edição é linda. Feita com muito capricho e cuidado. E abre portas para uma nova escritora que tem tudo para encantar ainda mais o público jovem.
*Mariana Amorim é estudante de jornalismo, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, papéis de bala e blocos de anotação. Integra a Rede@Literatura, coletivo de Fortaleza. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.