Stephen King rindo na nossa cara (Foto: divulgação)

Por Mariana Amorim*

Completando sete décadas de vida nesta quinta-feira, 21 de setembro, o escritor norte-americano Stephen King é considerado um dos maiores nomes no mercado de horror fantástico e ficção de sua geração

2017 pode ser considerado o ano de Stephen King. O mestre do horror, como é conhecido o norte-americano, está em alta no universo literário e cinematográfico. O filme IT: A Coisa, adaptado do best-seller homônimo do escritor, bateu recordes de bilheteria em poucos dias e impulsionou ainda mais as vendas do livro. Além disso, outra obras também ganharam versões para o cinema e televisão. Com mais de 80 livros publicados e traduzidos para mais de 40 línguas, Stephen King, que completa 70 anos de vida nesta quinta-feira, 21, faz jus ao título que recebe.

Stephen King é extremamente popular, escreve de uma forma fácil de ler, e tem boas ideias. Não há autor mais lido que ele no gênero terror. Além do mais, suas obras parecem ser fáceis de adaptar para o cinema”, explica Lola Aronovich, professora de Literatura em Língua Inglesa da Universidade Federal do Ceará (UFC).

King começou a escrever ainda na faculdade. O autor estudava na Universidade de Maine, nos Estados Unidos, onde assinava a coluna intitulada King’s Garbage Truck e posteriormente passou a lecionar na Academia Hampden.

Na mesma época, ele já esboçava o seu primeiro romance publicado, Carrie. A história da jovem com poderes psíquicos ganhou vida em 1974. Apesar do baixo valor recebido pela editora Doubleday, que lançou o livro na época, a obra rendeu a King reconhecimento como autor e um ótimo retorno financeiro com os direitos autorais. Logo após Carrie, King deixa de lecionar e passa dedicar-se somente a produção literária e se muda com a família para o Colorado. E foi lá que nasceu The Shining, O Iluminado (1977).

A obra, aclamada pela adaptação cinematográfica do diretor de Stanley Kubrick, foi a o primeiro grande best-seller de King. Com a história de Jack – um escritor com sérios problemas com a bebida que que fica encarregado de supervisionar o The Stanley Hotel durante o inverno, e é atormentado por fantasmas junto com a família – King tornou-se referência no gênero literário de terror.

“O elemento de terror dentro de maior parte das obras do King apresenta uma característica bastante peculiar. O autor consegue brincar bem com a mistura entre elementos ‘reais’ e a ‘fantasia’. A passagem entre esses campos se faz de forma fluida, o que resulta em uma sensação mais palpável daquilo que seria impossível”, ressalta o psicanalista Túlio Tavares.

Para Lola Aronovich, outro ponto forte de King é a narrativa. Fluída, ela prende o leitor. A professora atribui, principalmente, a este aspecto o sucesso do norte-americano. Desde O Iluminado, King passou a publicar histórias em curto espaços de tempo. “É jeito atraente que prende a atenção o fato de tantos dos seus livros serem adaptados para as telas aumenta muito seu leitorado”, reforça.

O fato é que essa facilidade de acesso às obras de King, só o aproxima ainda mais do seu público. Para Lola, a internet tem ajudado na divulgação e propagação do gênero de terror e que esse ‘boom’ pode trazer ainda mais frutos para a carreira de King. “Talvez o aumento de vendas do gênero terror se deva às redes sociais. Hoje há muitos fóruns para que leitores discutam as obras, e a influência dos fanfics também não pode ser descartada. Ou seja, as pessoas têm a oportunidade de interagir muito mais com as obras que amam do que tinham antes da internet”, finaliza.

Leia entrevista sobre literatura e terror

Túlio Tavares, psicanalista

Leituras da Bel – A partir de um ponto de vista psicológico, quais elementos das obras de King que as fazem ser consideradas como histórias de terror?
Túlio Tavares – O elemento de terror dentro de maior parte das obras do SK apresenta uma característica bastante peculiar. O autor consegue brincar bem com a mistura entre elementos “reais” e a “fantasia”. A passagem entre esses campos se faz de forma fluída, o que resulta em uma sensação mais palpável daquilo que seria impossível. Freud, em seu texto “Além do princípio do prazer”, de 1920, distingue angústia, medo e terror. Angústia se trata de um estado de expectativa de que algo ruim está prestes a acontecer, mesmo que não se saiba do que se trata. Já o medo necessita de um objeto que cause o medo, objeto conhecido que pode se apresentar. O terror se refere à apresentação de um objeto que cause um estado de extremo desconforto de forma inesperada, repentina, de forma que a capacidade de elaboração do sujeito diante desta experiência fica comprometida, podendo causar os mais diversos tipos de reação. SK trabalha muito bem com estas 3 experiências, mas principalmente com a angústia e o terror.

Leituras da Bel – Na sua opinião, porque os livros causam essa sensação? Existe algum tipo de linguagem ou elemento que cause isso?
Túlio Tavares – O autor consegue trabalhar bem com a passagem de elementos reais e a fantasia. Isto traz uma constante sensação de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento dentro de suas obras. Um elemento muito utilizado para atingir este efeito diz respeito ao modo como o autor se utiliza de um certo tipo de maldade que está dentro do próprio homem. Isso pode ser observado em livros como A espera de um milagre, onde o grande “monstro” não é um ser com poderes sobrenaturais. Trata-se de um criminoso que, ao longo da história, descobrimos que realizou atos abomináveis de forma fria e que poderia ser alguém que poderia ser parte do convívio do leitor. No livro Sob a redoma também podemos ver como uma situação de isolamento faz com que as leis e os costumes sociais usuais sejam descartados, fazendo que as pessoas que estão confinadas naquele espaço possam realizar atos vistos como terríveis. Outro elemento bastante utilizado pelo autor é o caráter inexplicável de alguns seres e fenômenos. Isto pode ser claramente observado no livro A coisa, cujo próprio nome já indica o elemento mais assustador do antagonista da história. Pennywise é assustador por não ter uma forma definida. Seus objetivos e os limites de seus poderes são desconhecidos, fazendo com que ele seja visto como a representação do próprio mal. Uma coisa, um estranho, cujo caráter ameaçador é reforçado diante daqueles que são alvos de suas ações: simples crianças indefesas. Através da passagem pela humanidade das situações, do caráter estranho e inexplicável de certos eventos, e a sensação de impotência apresentada pelos seus protagonistas, Stephen King acaba por fazer com que a sensação de terror de suas histórias seja algo constante e muito palpável.

Livros indicados por fãs

Isabelle Lima, Designer de Moda
Salém, 1975
Vampiros? Salém é o livro certo! Um escritor volta para a cidade em que viveu durante a sua infância, Jerusalem’s Lot, para escrever sobre uma casa que possui uma fama negativa. Surge na cidade um senhor que vai morar nessa casa, abre uma loja e começa a ocorrer coisas estranhas com os moradores da cidade. É o segundo livro publicado pelo autor e às vezes pode lembrar a história do “Drácula”, porém é bem mais assustadora.

Willian Rocha, Designer Gráfico
It, A Coisa, 1986
Em um dia de chuva, Bill Gago constrói um barquinho de papel para o seu irmão Georgie ir brincar na chuva e, infelizmente vai se encontrar com A Coisa, conhecido como Pennywise e que volta a cada 27 anos. O “clube dos otários” é composto por crianças que já encontraram a Coisa em diferentes feições e vão tentar destrui-lo ainda quando são crianças. Fazem um pacto de que se ela voltar um dia, irão se reunir novamente. A história se intercala quando estão com 40 anos e não lembram muito bem o que aconteceu anteriormente. You’ll float too!

Natasha Lima, universitária
O Iluminado, 1977
Um pai com problemas alcoólicos, uma criança iluminada e uma mãe mais feroz que uma leoa. Personagens reais que poderiam estar do seu lado. O melhor para mim foi usar elementos reais, não um monstro ou demônio. Enquanto lia O Iluminado roia todas as unhas de medo. O melhor da escrita de Stephen King é que você pode ler a qualquer hora do dia, mas sempre vai ter medo de virar a pagina.

Valdir Muniz, Designer Gráfico e ilustrador
Saco de Ossos, 1998
Saco de Ossos foi, com certeza, é um dos livros do King que mais me intrigaram. Nessa história, você já começa com aquele sentimento de “Mas o que é que tá acontecendo aqui?”, sabe? A gente tem mais um escritor com problemas, mas que vai cada vez mais esbarrando no impossível e na própria loucura. Engraçado como os personagens mais improváveis se tornam os mais assustadores nesse livro! Um dos melhores, na minha opinião.

*Mariana Amorim é estudante de jornalismo, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, papéis de bala e blocos de anotação. Integra a Rede@Literatura, coletivo de Fortaleza. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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