Eu tive uma rotina em 2014. Caminhava pela Avenida Domingos Olímpio, saindo do O POVO, e chegava no Dona Chica Bar e Restaurante. Tomava sopa toda noite enquanto conversava com botões e chorava pitangas. Conheço o prédio localizado na Avenida da Universidade de olhos fechados. Tal foi minha surpresa quando o estabelecimento anunciou o fim das atividades. Foi-se embora minha rotina de sopa e choro. Lá comemorei aniversário, bebi, dancei e vivi um tanto de alegrias.

Quase na mesma época, eu perdi outro estabelecimento que também me fez muito feliz. Era a Livraria Lua Nova. Eu penso em todas as vezes que subi aqueles poucos degraus da entrada conjecturando o livro que iria comprar, a tranquilidade do sofá, os amigos que estariam por ali. Mas a Lua Nova fechou também. São pedaços da memória afetiva que não tenho como esquecer.

Pois bem. Surgiu no mesmo Benfica uma livraria chamada Lamarca, capitaneado por Tammy e Guarani. Soube deles primeiro na Bienal do Livro, em abril. Achei curiosa aquela história de abrir livraria nova no bairro. Ora pois! E estavam bem ali, na frente do Bar Pitombeiras, um quadradinho minúsculo cheio de livros. Achei bonito, ó.

Detalhe do piso da Livraria Lamarca. Foto feita por mim no último sábado. O café custou R$ 2 e estava uma delícia

Pois o tempo passou e, um ano e oito meses após a inauguração, a Livraria Lamarca cresceu e mudou de lugar. Foi para o prédio onde funcionava o Dona Chica. Parecia o crossover dos estabelecimentos afetivos. É uma livraria – uma nova livraria – no prédio onde tanto fui feliz e de onde saíram tantas histórias boas de juventude.

Fui visitar a Lamarca no sábado. Lá tem um tempo próprio. É um tempo que, como diz o cearense, tá bonito para chover. O prédio foi reformado: paredes alvas, estantes novas, ambiente climatizado friozinho que dá gosto, espaço para fazer clubes de leitura e outros eventos, estante de livros livres, palco para apresentações musicais, espaço para contação de histórias, iluminação perfeita para leitura. E – para mim, o mais importante – café bom e barato.

A Livraria Lamarca tem o incrível potencial de ser o novo lugar das minhas afetividades no Benfica. O canto certo para folhear um livro, para comprar os lançamentos das editoras (o catálogo inclui Boitempo Editorial e Companhia das Letras), para ter uma reunião de negócios. Espero que a Lamarca viva e floresça por muitos e muitos anos. Que possamos construir memórias afetivas lá.

E espero ainda que os livros sejam comprados! Isso é necessários para a manutenção do espaço. Gerar receita, movimentar o caixa e todas essas coisas burocráticas das quais pouco entendo. Mas sei que são necessárias.

Primeira reunião do Clube de Leitura da Lamarca aconteceu sábado, 3. A mediação é de Charlene Ximenes

Livraria Lamarca

Ah, no sábado foram iniciadas as atividades do Clube de Leitura da Lamarca. A mediação é de Charlene Ximenes, professora de história e organizadora do Instagram @livrosdacha. O encontros vão acontecer nos primeiros sábados de cada mês, a partir das 10 horas. O próximo debate será sobre Perto do Coração Selvagem (Clarice Lispector). Apareçam para tomar café e falar sobre livros! Eu estarei lá.

Os bons ventos sempre chegam.

Serviço
Para conhecer a Livraria Lamarca
Onde: Avenida da Universidade
Horário: de segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 19h, e aos sábados das 9h às 17 horas
Aceita cartões
Venda de cafés e petiscos
Outras informações: www.facebook.com/livrarialamarca

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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