Por Bruno Paulino*

Rubem Braga

Manuel Bandeira dizia que ler Rubem Braga era sempre bom, mas quando ele não tinha assunto era melhor ainda. Concordo com o poeta habitante de Pasárgada, pois hoje estou sem assunto para escrever a crônica e estou pedindo a São Rubem Braga (não oficialmente reconhecido pelo vaticano, mas é canonizado pelos escritores como protetor dos cronistas e a quem eles costumam recorrer quando lhes falta assunto) que me mande inspiração lá do céu. Braga confessou certa vez que escrevia de palpite como outras pessoas costumavam tocar piano de ouvido; e em busca da desejada inspiração fui ler o seu clássico 200 crônicas escolhidas.

Veja a beleza desse trecho que pincei e que fala justamente sobre a falta de inspiração para escrever, da crônica O desaparecido, de abril de 1959:

“Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz, e, entretanto, eu hoje não me sinto um rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico”

O efeito catártico das crônicas do Rubem Braga está justamente na sinceridade com que ele escrevia (e como é difícil ser sincero) qualquer fato de sua vida. Qualquer assunto aleatório, seu cotidiano, uma conversa na rua, um flashback, uma tristeza, uma saudade, um pé de milho, uma borboleta tudo isso podia se tornar uma crônica diante do olhar atento e confessional do cidadão nascido na pequena cidade de Cachoeiro do Itapemirim no Espírito Santo. As crônicas de Braga também prezavam por uma linguagem corriqueira, simples e natural; dosando tudo isso com um lirismo quase sobrenatural, divino. Penso que talvez esse seja o segredo de o leitor facilmente se agradar de suas histórias ainda hoje: o lírico é atemporal, vem da alma.

Na crônica “As boas coisas da vida” ele enumera as boas coisas da vida (como era de se esperar pelo título) e uma delas é a seguinte: “Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daquelas que dão inveja e vontade de reler”. Pois é, quando se lê Rubem Braga é bem assim que a gente se sente. E a inspiração para escrever vem como que soprada pelo vento.

Obrigado São Rubem Braga, por interceder por esse pobre cronista junto às musas!

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Bruno Paulino é cronista e aprendiz de poeta.

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Colaboradores LDB

Colaboradores do Blog Leituras da Bel. Grupo formado por professores, escritores, poetas e estudiosos da literatura.

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