Por Bruno Paulino*
I
Tenho falado muito para crianças em escolas e feiras literárias sobre livros e leitura nos últimos anos; apesar da correria, é a maior benção de Deus na minha vida. Faço isso como recomendava Santa Teresinha: sempre atento aos pequenos sinais e com a seriedade que o momento exige.
Uma coisa que tenho aprendido é que as crianças querem que vejamos suas ideias e sentimentos com atenção e respeito – adentremos no seu mundo. Se fizermos isso, elas certamente vão gostar da gente. Dia desses, ao final de um bate-papo sobre meus livros numa escola pública, enquanto a maioria dos alunos queria tirar fotos, selfies e pegar dedicatórias, um garotinho chamado Lucas, de no máximo nove anos, não desvencilhava meu pé. Pedi um minutinho para atender seus colegas, e expliquei que logo falaria com ele, que compreensivo entendeu e esperou. Finalmente quando consegui lhe dar a devida atenção, ele me deu um abração apertado e disse:
– Só queria te dar um abraço, pois sempre quis conhecer um escritor, e hoje conheci.
Eu confesso que me emocionei pela espontaneidade e sinceridade do gesto. Então, peguei o livro que estava na mão e lhe dei de presente; penso que era um exemplar de Pequenos Assombros.
Ele ficou boquiaberto e também visivelmente emocionado falou:
– Agora deu foi vontade de chorar, Bruno!
Depois disso, a gente volta para casa com a alma em paz. Satisfeito consigo mesmo, como se tivesse feito um gesto capaz de salvar o mundo – ou se tivesse ganhado o maior prêmio da literatura mundial.
II
Costumo ir à biblioteca do Sesc-Ler de Quixeramobim em qualquer horário, mas gosto mais de ir à tarde quando ela está cheia de crianças – na minha opinião não existe lugar melhor para uma criança passar as tardes que numa biblioteca. Quando chego, elas já me reconhecem e cumprimentam, e enquanto escolho os livros, umas puxam conversa:
– Já li seu livro com a tia na escola…
Às vezes, perguntam:
– O senhor – elas me chamam de senhor – que é inteligentíssimo, pode me ajudar a resolver a atividade?
Eu fico me achando!
Certa feita, enquanto folheava livros, uma dessas crianças chegou e me abraçou de surpresa, e daí começamos a conversar, pois sou amigo da mãe dela, e ela acabou lembrando-se de mim. Depois que escolhi os livros, fui me despedindo e só a ouvia dizendo para os colegas, com certo orgulho:
– Ei esse homem aí sabe fazer livros, ele é amigo da minha mãe!
III
Dia desses, saindo do trabalho, entrei numa lanchonete e pedi, como sempre, uma vitamina de cajá, e enquanto fiquei esperando, uma criança – menina de no máximo seis anos – na mesa ao lado, com os pais, me olhou e deu língua. Percebi e fiquei sem ação. Ela continuou me dando língua. Resolvi então responder. E também dei língua para ela de volta. Ela começou a rir, se levantou, caminhou na minha direção e quando chegou perto perguntou:
– Seria legal se a gente fosse amigo. O senhor quer ser meu amigo?
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Bruno Paulino
É cronista e aprendiz de passarinho
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