Leitor de Eliana Alves Cruz, Conceição Evaristo, Elisa Lucinda – o escritor Rodrigo França lançou, nos últimos dois anos, uma série de obras vinculadas ao universo do Pequeno Príncipe Preto. A releitura do personagem clássico ganhou novos ares a partir de versões para crianças pequenas, crianças bem pequenas e livros de jogos. Para o futuro, ele já tem projetos traçados na literatura.
Rodrigo França é articulador cultural, ator, diretor, dramaturgo e artista plástico. Cientista social e filósofo político, já atuou como pesquisador, consultor e professor de direitos humanos fundamentais. É ativista pelos direitos civis, sociais e políticos da população negra. Já expôs suas pinturas no Brasil, nos Estados Unidos e em Portugal. Ganhou o Prêmio Shell de Teatro 2019, na categoria Inovação, pelo seu Coletivo Segunda Black, que também foi contemplado como o Prêmio Questão de Crítica. Em 1992 começou a sua carreira de ator e no teatro e no cinema. Já trabalhou em 42 espetáculos como ator e oito como diretor. Escreveu peças teatrais, entre elas, O Pequeno Príncipe Preto.
Leituras da Bel – Qual foi o principal desafio ao escrever uma versão de um clássico tão aclamado quanto O Pequeno Príncipe?
Rodrigo França – O principal desafio foi fugir de uma simples adaptação com recorte racial. E também traduzir a partir de uma realidade sociocultural, que pegasse somente algumas estruturas, como a história de ter um menino sozinho num planeta, e contextualizar com a realidade de um menino preto, de qualquer diáspora.
Leituras da Bel – Você acredita que os livros sobre o Pequeno Príncipe Preto vão reforçar a autoestima de meninos negros e meninas negras?
Rodrigo França – Todo mundo, principalmente crianças e adolescentes, precisa de referência. Na medida que você tem a tradução de uma referência positiva, isso fortalece uma exemplificação daquilo que pode ser seguido. É o que a gente fala sobre representatividade positiva, se enxergar como bonito, se enxergar como inteligente, se enxergar como capaz.
Leituras da Bel – A escola, enquanto ambiente de incentivo à leitura, nem sempre proporciona o contato com autores e autoras negras. A realidade é que nossas crianças e jovens estão sempre lendo os clássicos – escritos por homens, brancos e burgueses. Quais memórias você tem das aulas de literatura na escola?
Rodrigo França – A escola deveria ser um ambiente de acolhimento e normalmente é um espaço de violência, começando por violência intelectual, na medida em que a gente oferece no Brasil conhecimentos exclusivos, ou quase exclusivos, de uma realidade que não é nossa. Infelizmente, a gente ainda tem uma educação que pretere o que a gente realmente é, como indígenas, africanos, latinos, e enaltece a parcela que temos de Europa. Então, uma das primeiras violências que a escola oferece é apagar qualquer processo epistemológico, qualquer processo da nossa raiz cultural e intelectual.
Leituras da Bel – Quais autores negros e autoras negras você costuma ler? Quais são os teus favoritos?
Rodrigo França – Sem dúvida, Eliana Alves Cruz, Conceição Evaristo, Elisa Lucinda, Henrique Rocha… Muita gente. Amo, amo!
Leituras da Bel – A Pixel tem uma capilaridade grande – conseguindo comercializar em bancas de jornais e grandes livrarias. Qual a sensação de ter um personagem como o Pequeno Princípe Preto inserido em espaços de grande alcance?
Rodrigo França – A sensação de poder popularizar e democratizar o acesso à leitura, o acesso aos meus conteúdos. Eu acho que eu quero dialogar com todo mundo, eu quero ultrapassar bolhas e barreiras.
Leituras da Bel – Depois de três lançamentos envolvendo o personagem Pequeno Príncipe Preto, quais são os próximos passos de Rodrigo França como escritor?
Rodrigo França – Eu tenho um texto que é sobre uma abelha afrobrasileira, que é um personagem infantil, e que vai falar sobre união. Sobre o quanto a gente é mais forte, junto e junta. Esse é o meu próximo projeto infantil e estou escrevendo uma antologia com pensadores negros e negras, que também deve sair esse ano, e um próximo livro adulto, que é a minha experiência dentro da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, como pesquisador e professor.
Serviço – Conheça os livros
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