Estive hoje nos “Debates incalculáveis”, no qual o arquiteto e urbanista Fausto Nilo falou sobre “Cidade – A forma do intercâmbio”.
Ele fez um histórico de como as cidades sustestáveis, até cerca de oito mil anos atrás, transformaram-se em metropóles e megalópes, por via da Revolução Industrial; explicou o modo como a “elite” constrói cidades péssimas para os habitantes, mas boas para seus negócios – e insustentáveis; criticou políticos que refugam qualquer plano de urbanismo, pois estes demoram cerca de 25 anos para dar resultado; desmitificou o seu próprio trabalho ao dizer que o urbanista é “autor de violência, porque modifica o meio ambiente”, mas, em contrapartida, negou-se a reconhecer “santidade” na Natureza.
Disse que o termo “desenvolvimento sustentável” parece desgastado pelo [mau] uso intensivo que se faz dele, mas recusou-se a descartá-lo. Diz que um projeto é sustentável quando traz benefícios ambientais, econômicos e sociais – em todas as suas ramificações – e que o conceito tem de ser disseminado.
E falou do estaleiro, que o governo do Estado insiste em construir na Praia do Titanzinho, em plena orla urbana de Fortaleza.
Fausto Nilo disse que o “maior patrimônio estratégico” de qualquer cidade do mundo é a sua orla urbana. Um patrimônio que pode gerar mais riquezas [ambientais, econômicas e sociais] do que um estaleiro.
Disse ainda que quem constrói um empreendimento quer ver seu êxito. E que o “êxito” do estaleiro seria uma desgraça maior ainda [palavras minhas], pois se o empreendimento o crescer [quem garante que vai parar em oito navios?, pergunta] a indústria será cercada por uma “muralha”, que deixará o bairro do Serviluz “inconvivível”. Ele diz que, como o trabalho de um estaleiro é cortar, soldar e lixar, o resultado seria “poeira abrasiva” e barulho em larga escala.
Ele disse também que toda indústria produz “filhotes” [outras complementares que se formam em seu entorno] o que transformará o bairro em um “distritto de uso único”, algo inconcebível para o local. Segundo Fausto Nilo, com a retirada da área de tancagem da Petrobras, que já está sendo feita, seria possível “botar 40 mil pessoas” no bairro, com moradias diversificadas [para várias classes sociais] e hotéis. Para ele, tem-se de investir no turismo naquela área.
Segundo Fausto, hoje existem métodos precisos para “quantificar e fazer a tradução financeira” comparativa entre os empreendimentos – e seria “matemáticamente demonstrável” o prejuízo que a instalação de indústrias traria em comparação com o uso misto e turístico do local. Além disso, diz ele, existem valores que “não têm tradução financeira”, que também precisam ser levados em conta. Mas, diz Fausto, “os que decidem” não têm o hábito de discutir os assuntos dessa maneira, apelando para argumentos simplificadores.
Por fim, Fausto afirma: “Estaleiro tem que ser longe da cidade, se não tem como fazer [na área rural] , então não se faça”. [E lembrou que o porto do Pecém foi construído para abrigar tais empreendimentos.]
Caro Plínio,
Senti falta de seu “bordão”: “Fortaleza terra sem lei”. Não seria, no caso, pelo fato de a Prefeita ser contra o tal estaleiro? Ou, de repente, Fortaleza passou a ser terra com lei? Devemos sempre ser coerentes com nossas posições, e não personalizá-las ou usá-las segundo nossas conveniências.
Um abraço,
Caro Nelson,
O que uso é “Fortaleza, terra de ninguém”. De um modo ou de outro, foge-me o entendimento do que v. quis dizer.
Plínio
Caro Plínio,
O que quis dizer é que no caso do estaleiro você não usou a expressão “Fortaleza, terra de ninguém”. (Tudo bem que usei a expressão errada, mas o SENTIDO é o mesmo). E perguntei se a ausência da expressão se deve ao fato de a prefeita também ser contra a instalação do mesmo na Praia do Titanzinho. Mas deixemos isso para lá – passou o “timming”.
Um abraço,
Nelson
Caros,
de certo na internet encontramos opiniões para todos os gostos. Com intuito de fomentar um debate com mais informações encontrei dois textos que tratam de estaleiros. Esse debate com certeza merece um tempo maior de pesquisa quanto se pensa em um estaleiro dentro de uma cidade.
http://www.pprc.org/hubs/subsection.cfm?hub=32&subsec=3&nav=3&CFID=2290149&CFTOKEN=52098799
http://ice.ucdavis.edu/education/esp179/?q=node/189
Plínio. Contundentes as afirmações de Fausto Nilo e , dada a repercussão no teu blog, e na edição d’ O POVO de hoje, parece que ouvidos moucos aos argumentos reais que demonstram a inviabilidade de um estaleiro em zona urbana se abrirão agora. Fausto Nilo destaca um ponto importante: a “muralha” que cerca estaleiro ou porto significa interdição do acesso à orla, em qualquer lugar do mundo – vejamos o Mucuripe, por exemplo. Ha casos de cidades “mortas” por um porto e estaleiro e Casablanca, no Marrocos é uma delas. Além da diversidade cosmopolita nas ruas, não ha muito o que se ver em Casablanca, “abraçada” por um grande porto.
Amigo Plínio…a questão estaleiro revela o modus operandi dos governos, isto é, gangs/grupos de pressão legitimados pelo artifício da eleição…esses “man in black” uma vez movidos pela violência gananciosa da tirania político-administrativo-empresarial, de tudo se apropriam e com a desculpa de emprego e renda degradam o mundo natural e a qualidade do habitar humano…Agora é o estaleiro e logo mais os desenraizados da Serrinha, por conta do novo Castelão, muitas familias modestas, os pobres, serão jogados no aterro do Jangurussú…o desenraizamento das pessoas para lugares indesejáveis e inadequados é um crime maior contra a humanidade…Saudações da pARTE do Hélio Rôla
Por favor ouçam este homem: Fausto Nilo!!!
Parabéns a ele pela lucidez e coerência…
Concordo com Fausto Nilo. Não consigo ver a cidade mas como um local de moradia e sim de negócios.Um exemplo claro é o que vem acontecendo com o centro “histórico” de Fortaleza, casarões, prédios e outras edificações centenárias postas ao chão para se construir estacionamento para carros.
Concordo com Fausto Nilo. Não consigo ver a cidade mas como um local de moradia e sim de negócios.Um exemplo claro é o que vem acontecendo com o centro “histórico” de Fortaleza, casarões, prédios e outras edificações centenárias postas ao chão para se construir estacionamento para carros.
Fausto Nilo é uma das melhores cabeças pensantes do Ceará. O povo aqui vive iludido com obras cosméticas pra inglês ver ,vive pensando em imitar Rio de Janeiro ou São Paulo,vivem se esquecendo dos valores da terra,torcem por times de outros estados(menos nordestinos),temos Ladrão por metro quadrado e quando um poeta,arquiteto e compositor fala a verdade tem alguém pra criticar..são burgueses pensando que são ingleses…