Meu artigo semanal publicado na edição de hoje do O POVO, com ilustração de Hélio Rôla, exclusiva para os leitores do blog.
Gastos de classe
Plínio Bortolotti
Reportagem publicada na edição de terça-feira deste jornal mostra que, pela primeira vez este ano, o conjunto do consumo da classe D (renda entre R$ 511 e R$ 1.530) superou o que gasta a totalidade da classe B (renda entre R$ 5.101 e R$ 10.200).
Do bolo de rendimentos das duas classes, R$ 1,38 trilhão, a classe D gastou com produtos e serviços R$ 381,2 bilhões (28%) e a classe B gastou o equivalente a 24% (R$ 329,5 bilhões).
É bastante compreensível que os estratos mais pobres da população gastem mais à medida que a sua renda aumenta (para isso, certamente contribuíram a recuperação do valor do salário mínimo e os programas de transferência de renda).
Para uma pessoa de baixa renda falta aquilo que, para muitos, pode parecer o básico: um fogão, uma geladeira, um guarda-roupa para acomodar novas roupas, a melhoria da alimentação, entre outras coisas. E é a compra desses objetos que faz com que a classe D gaste mais com do que a classe B, que já não precisa aumentar os seus gastos nesses produtos.
(Isso provoca o que os economistas chamam de “círculo virtuoso”: a renda aumenta, cresce o consumo, a indústria produz mais e o setor de serviços vende mais – aumentam os empregos, etc.)
No entanto, o maior potencial de consumo está na classe C, a chamada “nova classe média” (renda entre R 1.531 R$ 5.100). E como esse segmento vem gastando?
Segundo pesquisa publicada no jornal Folha de S. Paulo (18/7/2010), esse público gasta entre 30% e 60% de sua renda com produtos de marca. Aí entram bolsas de grife, sapatos e roupas de luxo e caros produtos de beleza, entre outras coisas que podem, digamos assim, distinguir uma pessoa na multidão.
Se o anseio por um objeto, chamemo-lo de útil (um fogão, por exemplo), se justifica por si só, o que explicaria que um setor emergente passe a ter gastos tão elevados em coisas que poderiam ser chamadas de supérfluas?
Plínio, tentar responder a esse questionamento levaria a um longo texto sobre o comportamento do consumidor, ramo do marketing que dialoga com a psicologia. Mas lembro que a Pirâmide das Necessidades elaborada pelo psicólogo Abraham Maslow destaca, entre as necessidades do homem, a realização pessoal, lá pelo topo.
Pelo que meus professores destacaram, o ser humano busca, primeiramente, a satisfação das necessidades mais básicas (fisiológicas e de segurança) e vai partindo para outras necessidades, como a de afeto, autoestima e autorealização. Isto é, depois de comer e ter uma moradia, ele vai atrás de amigos, parceiro e, por fim, de sucesso na vida.
E, esse sucesso, essa autorealização, pode ser traduzido, com ajuda da propaganda, do marketing e da própria influência social, em adquirir um produto e me posicionar socialmente.
Daí que as classes mais baixas finalmente compram produtos básicos, satisfazendo suas necessidades mais baixas na hierarquia de Maslow, e a classe média já está além disso – já tem casa, comida, convívio social e relacionamento afetivo. Agora é partir para o topo da pirâmide.
Felipe,
A sua resposta já explica muito coisa.
Agradeço,
Plínio