Meu artigo semanal publicado na edição de hoje do O POVO:

Ficha limpa, ficha suja
Plínio Bortolotti

O projeto chamado “Ficha Limpa”, sem dúvida nenhuma, foi algo positivo para o cenário político. A sua aprovação no Congresso Nacional deu-se pela enorme pressão popular e pela força do mais de um milhão de assinaturas, colhidas em todo o país, que o fez tramitar como um projeto de iniciativa popular. Seria muito difícil imaginar que tal medida vingaria, dependesse apenas da vontade dos políticos.

É um mecanismo que ajudará a sanear os costumes políticos do país, pois é inadmissível que um político, adepto do mau hábito de – digamos assim – maltratar os recursos públicos, continue gerindo uma cidade, um estado ou um país, ou mesmo que venha a ser um legislador.

Se para uma função pública de menor monta – um concurso, por exemplo – exige-se atestado de bons antecedentes, por que isso seria dispensável para representar os cidadãos no governo e no parlamento, funções nobres da democracia?

Posto isso, é preciso dizer o seguinte.

É hábito da imprensa de criar “selos” ou rótulos para assuntos que estão na ordem do dia ou de muita repercussão. Assim, o caso da suposta compra de votos de parlamentares, envolvendo o PT (2005) ganhou o carimbo de “mensalão”. E “mensaleiro” virou todo parlamentar que visitou determinado banco, onde supostamente se faziam os pagamentos, tendo ele culpa ou não no malfeito. Poderia citar dezenas de outros casos do mesmo teor.

Algo parecido, talvez pior, está acontecendo com a Lei da Ficha Limpa. Por oposição, a imprensa passou a batizar de “ficha suja” todos aqueles que têm a candidatura questionada, independentemente se cometeu um equívoco contábil ou praticou uma grande ilicitude.

Creio que a responsabilidade de separar uma coisa da outra cabe aos procuradores e à Justiça. E, também, à imprensa, pois a ela cabe informar seu leitor com clareza e precisão.