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Meu artigo publicado na edição de hoje (3/2/2011), do O POVO.

Tratado do decrescimento sereno
Plínio Bortolotti

Na edição de 28/10/2010 escrevi o artigo Decrescimento feliz, a partir de um discurso do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), pois me surpreendera o tema: a defesa de que os principais males atuais da humanidade vêm do crescimento excessivo das economias. E não o contrário.

Recebi alguns e-mails; um dos leitores, encontrei casualmente. Ele me disse ter lido o artigo, indicando-me um livro: “Pequeno tratado do decrescimento sereno” (2009), do economista francês Serge Latouche.

Nas suas duas primeiras duas partes o livro apresenta os argumentos que sustentam a tese: “O crescimento infinito é incompatível com um mundo finito” e que “estamos a bordo de um bólido sem piloto, sem marcha a ré e sem freio, que vai se arrebentar contra os limites do planeta”. A terceira parte se constitui um programa político para o decrescimento.

Na sua proposta “subversiva”, Latouche confronta até os ecologistas do “crescimento sustentável”. Para ele, “o desenvolvimento é uma palavra tóxica, qualquer que seja o adjetivo com que a vistam”. No mesmo saco, ele põe partidos de esquerda: “O capitalismo e socialismo produtivista são variantes de um mesmo projeto de crescimento”.

Com dados do instituto californiano Redifining Progress e do World Wide Found (WWF), mostra que a humanidade consome quase 30% a mais da capacidade de regeneração da biosfera”, e que se o padrão de consumo da humanidade fosse igual a dos americanos, seria preciso seis outros planetas terra para sustentá-lo.

Para Latouche, “quase todo mundo” concorda que se chegou a uma encruzilhada, “mas ninguém ousa dar o primeiro passo”, para falar sobre a necessidade do decrescimento.

Ao contrário do que se possa pensar, Latouche afirma que reduzir não significa regredir. Com o decrescimento – e a distribuição mais equitativa dos recursos –, diz ele, a sociedade viverá melhor “trabalhando e consumindo menos”.

É ou não é um bom tema para esquentar o sonolento debate entre “desenvolvimentistas” e “monetaristas”?