Meu artigo publicado na edição de hoje (17/2/2011) do O POVO.

Foto de Drawlio Joca. Veja mais em http://www.flickr.com/photos/drawliojoca (clique para ampliar)

Twitter não faz revolução
Plínio Bortolotti

Há um equívoco, que transborda em euforia em alguns analistas, ao creditarem qualquer mobilização que ocorra hoje ao poder das chamadas mídias sociais, surgidas com a Internet (Twitter, Facebook, etc.). No Irã, na revolta que se seguiu à contestada eleição de Mahmoud Ahmadinejad, falou-se em “revolução do Twitter”

Agora, com a incrível façanha do povo egípcio, que em 18 dias pôs pra correr um ditador que há 30 anos mandava e desmandava no país, o argumento retorna revigorado – e se fala em “revolução do Facebook”.

Lendo-se alguns artigos fica-se com a impressão de que os gadgets tecnológicos (celulares, notebooks, tablets) por si só têm o poder de arrastar multidões: basta um clique. Não é bem assim que a banda toca.

Basta olhar um pouco para trás e verificar que a humanidade em sua penosa história já enfrentou tiranos, já derrubou regimes, já fez revoluções – sem o concurso dessas tecnologias. Gandhi libertou a Índia do jugo britânico com a tática da não-violência: a rede social, ele a formava com suas longas caminhadas; do mesmo modo, Martin Luther King mobilizou milhões contra o apartheid americano. Nenhum dos dois dispunha dos dispositivos que conhecemos hoje. O que possibilitou o surgimento desses líderes foram fatos reais, realizados por pessoas reais, que formavam fortes laços de solidariedade.

As mídias sociais são isso mesmo que dizem o seu nome: meios. Afirmar que o Twitter faz revolução é o mesmo que atribuir aos sinais de fumaça a resistência dos índios americanos contra a invasão de suas terras.

As coisas não fazem história. Os homens a fazem, usando os meios (materiais e imateriais) disponíveis em sua época. Se antes os estudantes e revolucionários reuniam-se em cafés fumarentos, escondendo-se da polícia política, hoje eles o fazem usando as assépticas telas dos computadores.

Isso não quer dizer, óbvio, que eu desconsidere a importância das mídias sociais e a facilidade de comunicação que elas permitem.