“Mortal Kombat”, de Hélio Rôla (clique para ampliar)

Meu artigo publicado na edição de hoje (5/5/2011) do O POVO.

Festa macabra
Plínio Bortolotti

1) É óbvio que a ordem era para matar Osama bin Laden; se capturado vivo, os Estados Unidos teriam um problema sem tamanho nas mãos.

2) O fato de o corpo ter sumido, supostamente atirado no mar, nada tem a ver com o cuidado que o governo dos EUA diz ter com as tradições islâmicas; assim fosse o comportamento americano seria diferente em Guantânamo, e os tristes episódios na penitenciária de Abu Ghraib (Iraque) não teriam acontecido.

3) Ainda é obscuro o papel do Paquistão no ataque a Bin Laden; mas parece estranho que, depois de uma ação estrangeira em seu território, seja o governo paquistanês que tenha de vir a público se explicar, abdicando de seu papel de nação soberana.

4) Nenhuma declaração do governo americano sobre o que aconteceu dentro da casa na qual Bin Laden foi morto é digna de crédito, como se verdade fosse. O que os Estados Unidos oferecem é uma versão dos fatos, sujeitos a verificação.

5) Os Estados Unidos são um país guerreiro; cada uma de suas gerações teve a sua guerra. Com Bin Laden morto, arrumar-se-á outra face para simbolizar o inimigo.

Esses aspectos, a meu ver, mereceriam mais atenção de uma cobertura jornalística, que é intensiva, mas repetitiva, e muito crédula nas versões oficiais.

Agora, o mais chocante foi a festa, tipo final de campeonato, que varreu os Estados Unidos, depois da morte de Bin Laden.

Partamos do princípio de que, por vezes, provocar a morte de alguém é necessário – no caso de autodefesa, por exemplo. Ou quando se está em um campo de batalha e se é obrigado a fazer e a responder ao fogo inimigo. Mas daí a “comemorar” mortes soa como algo obsceno.

Ao fim de toda guerra há comemorações, mas o que se festeja é justamente o fim da matança, a chegada da paz, uma celebração à vida. O que se viu nos EUA foi o inverso disso: uma festa macabra, comandada por um Prêmio Nobel da Paz, Barack Obama.

Desculpem-me, mas essa “comemoração” me fez lembrar o lema fascista do franquismo: “Abaixo a inteligência. Viva a morte!”

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