Meu artigo publicado na edição de hoje (23/2/2012) no O POVO.

Arte de Hélio Rôla

Delírios do Carnaval
Plínio Bortolotti

Tão certas quanto o Carnaval são as confusões que se seguem, escrevi no Twitter, o que mereceu alguns retuítes: isto é, pessoas que concordaram e o enviaram para outras.

E a guerra vem, como sempre – afora os acidentes e mortes que se repetem com regularidade macabra –, na apuração de votos que escolhe a “melhor” escola de samba. Tem gente disposta a morrer para ver sua “escola” em primeiro lugar, como tem torcedor que morre e mata por seu time de futebol, cujos atletas estão muito mais preocupados (e não lhes tiro a razão) com suas carreiras do que dar importância a um bando de fanáticos.

Passo por cima de todas as notícias relativas à “festa”, a não ser aqueles impossíveis de se deixar de ler, pois nas primeiras páginas dos principais portais da internet, como aquela – sem a qual a humanidade poderia perecer – que nos deu a conhecer que atriz Jennifer Lopes evitou ser fotografada comendo batata frita (ou seria pastel?) em um dos camarotes no Rio, ao qual ela compareceu por módica quantia (comparando com os valores investidos na festa; dinheiro vindo sabe-se lá – e se sabe mesmo – de onde).

O Carnaval, dizem, serve para as pessoas se libertarem da camisa de força cotidiana, vivendo alguns dias de esbórnia. Ok, mas como diz o velho Belchior: “A minha alucinação é suportar o dia a dia, e o meu delírio é a experiência com coisas reais”.

No período, optei por uma espécie de prisão domiciliar voluntária, da qual saí raramente em algumas incursões exploratórias: para apreciar a cidade preguiçosamente vazia, pegar um filme, fazer uma caminhada. A alegria compulsória das multidões, bêbados, homens e mulheres exibindo latinhas de cerveja como troféus, me constrangem ao invés de me animarem.

Leio na manchete do O POVO de ontem: “Fortaleza redescobre o Carnaval”, prevendo que cidade deixará de ser “uma ilha de sossego” no período. Medo.

(De qualquer modo, peço um desconto aos leitores, pois, na opinião de um amigo, sou um cara com “senso de humor rarefeito”.)