Reprodução da coluna “Política”, edição de 16/5/2014 do O POVO.

A realidade de Luizianne Lins
Plínio Bortolotti

Na entrevista de ontem a este jornal, a ex-prefeita de Fortaleza criticou o seu partido, o PT; desancou os antigos aliados do Pros, o governador Cid Gomes e o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (na época da política de boa vizinhança ambos estavam no PSB); e defendeu candidatura própria (a dela) para o governo do Ceará.

Luizianne diz que o grupo comandado por ela no PT não apoiará nenhum candidato indicado pela “oligarquia Ferreira Gomes” e “muito menos” se o escolhido for do PT. (Seria interessante vê-la explicando o motivo da aversão maior por um candidato de seu próprio partido.) Ao mesmo tempo em que renega os candidatos do Pros/PT, tratou suavemente o PMDB, com seu candidato a governador, Eunício Oliveira. (Só lembrando: Valdemir Catanho, um dos mais próximos aliados de Luizianne, é suplente do senador Eunício.)

Sobre o apoio que dispensou por longo tempo ao governador Cid Gomes, explicou-se: “A gente tentava justificar o injustificável, é um governo que tem diversas denúncias de corrupção”. Tradução possível: participavam de uma mentira.

Ufanista, a ex-prefeita diz falar “por todos os militantes e toda a sociedade civil organizada”. Mas está isolada no partido, sem a capacidade de mobilização e carente do apoio popular que detinha na eleição de 2004 (quando confrontou e derrotou a direção nacional do partido e, de quebra, venceu as eleições municipais), Luizianne parece um pouco deslocada na realidade cambiante. O fracasso parece ter-lhe subido à cabeça.

CONTRABANDO
A presidente Dilma Rousseff (PT) desativou uma bomba armada para explodir no colo dos clientes de planos de saúde. Ela sancionou a lei, criada a partir de uma medida provisória – sobre da tributação de empresas no exterior – vetando um de seus itens. A proposta vetada entrou na MP por insistência do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da “base (mui) aliada” . Foi um evidente contrabando, pois a emenda nada tinha a ver com o mérito da MP.

Cunha pretendia reduzir a multa aplicada a planos de saúde por infrações cometidas (negar procedimento é uma das mais comuns). Atualmente, as operadoras pagam multas que variam de R$ 5 mil a R$ 1 milhão por infração cometida. Pela benesse conjurada pelo deputado, seria criada uma tabela: se o plano tivesse de duas a 50 multas pelo mesmo motivo, pagaria por apenas duas infrações. No último patamar, acima de mil infrações, plano pagaria como se tivesse cometido apenas 20 faltas. O passa-moleque, sustado por Dilma, seria um incentivo ao achaque de pacientes.

MARINA, MAIS UMA VEZ
Recebo nova réplica à nota “Marina” (14/5/2014) e também resposta a um item do texto principal da coluna de 13/5, em documento assinado por Sergio Novais (presidente do PSB-CE) e Geovana Cartaxo (porta-voz da Rede Sustentabilidade no Ceará).

Sobre a coluna de 13/5. Os signatários dizem que o ingresso e a permanência do grupo político do governador Cid Gomes no PSB sempre enfrentou “resistências internas no partido”, e lembram “que o PSB foi contrário ao projeto do atual secretário de saúde, Ciro Gomes, de se candidatar a presidente”, destacando que a deputada Eliane Novais “tem feito firme oposição ao governo do Estado, representando o pensamento político do atual comando da legenda”.

A respeito da nota de 14/5. Afirmam Sérgio e Geovana que a líder da Rede, marina Silva “espelha com consistência o desejo de mudança” da sociedade; que a filiação dela – e dos demais integrantes da Rede ao PSB – deu-se pela “trajetória de luta desse partido em defesa da democracia”, que o credencia a assumir um papel de protagonista “compromissado com a sede de transformações da sociedade”, e que Campos “simboliza a identidade dessa mudança”. Lembram ainda que “Eduardo e Marina assumiram o compromisso de, sendo eleitos, conduzir o governo de forma conjunta e distante das oligarquias tradicionais da velha política”.

Quanto à réplica à coluna de 13/5: eu nem toquei nas disputas internas do PSB, portanto é uma resposta ao que não escrevi. Sobre resposta à nota 14/5, entendo-a do ponto de vista do discurso partidário.

PM
Usar a greve da Polícia Militar em Pernambuco para atacar o governador Eduardo Campos – candidato a presidente da República pelo PSB – equivale ao crime de lesa-pátria. Greve de militares é proibida pela Constituição brasileira, e tem de ser repelida de plano, acima de quaisquer considerações políticas ou eleitorais. Não se pode admitir que homens armados, como ocorreu em outras greves de PMs, sejam os artífices do terror, acuando a população civil.