Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 17/8/2014, do O POVO.

Carlus

Arte: Carlus

Hiroshima, 69 anos
Plínio Bortolotti

Efemérides da Segunda Guerra Mundial costumam ganhar destaque nos jornais, como foi o caso do Desembarque da Normandia – o Dia D -, cuja lembrança dos 70 anos reuniu vários chefes de Estado na praia francesa, no dia 6 de junho deste ano. Porém, um dos mais dramáticos acontecimentos ficou esmaecido na sua passagem de 69 anos, no dia 6 de agosto. Talvez pelo sestro da imprensa e dos cerimoniais em privilegiar datas “redondas”; talvez pelo fato de o país que provocou a tragédia ter saído vencedor do conflito.

Esperemos, então, o que acontecerá no próximo ano, quando se completarão 70 anos do dia em que os Estados Unidos despejaram uma bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima, no Japão, sendo a primeira vez que essa arma devastadora foi utilizada na história da humanidade. A cidade tinha 245 mil habitantes, sendo que 3/4 concentravam-se no centro, onde a bomba foi atirada, matando mais de 100 mil pessoas, deixando outro tanto de feridos.

A explosão derreteu praticamento tudo – humanos, animais e prédios – em uma área de 10 quilômetros quadrados a partir de seu epicentro. A maioria dos atingidos, isto é, os que sobreviveram, não ouviu estrondo algum, viu apenas um “clarão silencioso”, seguido de uma espessa nuvem de fumaça, que transformou o dia em noite, e de uma chuva negra de resíduos com pingos do tamanho de bolas de gude. Atônitos, os sobreviventes viram “mais mortes do jamais teriam imaginado ver”.

Os trechos entre aspas são do livro Hiroshima, do jornalista John Hersey, que escreveu uma matéria para a revista New Yorker, um ano após os acontecimento. Em 1985, ele retornou a Hiroshima, reencontrando os personagens da história que contara 40 anos antes.

Hersey opta por relatar os acontecimentos pelos olhos de seis sobreviventes: srta. Toshiko Sasaki, dr. Masakazu Fujii, sra. Hatsuyo Nakamura, padre Wilhelm Kleinsorge, dr. Terufumi Sasaki e reverendo Kiyoshi Tanimoto. O jornalista narra aquela manhã que principia como mais um dia comum (se é que se pode chamar assim o cotidiano de um país em guerra, em uma cidade alvo de bombardeios) na vida de cada um dos personagens, quando tudo vira de cabeça para baixo, exatamente às oito horas e quinze minutos. A brutalidade do ato, que deixou centenas de milhares de mortos em poucos segundos, Hersey concentra nessas seis vidas.

“A sra. Nakamura observava o vizinho quando um clarão de um branco intenso, de um branco que nunca tinha visto até então, iluminou todas as coisas. (…) o instinto materno a direcionou para os seus filhos. No entanto, mal deu um passo (encontrava-se a 1.215 metros do centro da explosão), alguma coisa a levantou e a fez voar até o cômodo contíguo, em meio a partes de sua casa.”

É com uma narrativa assim, naturalista, aparentemente despida de sentimentos, que Hersey leva o leitor ao coração do horror.

“O sr. Tanimoto corria sem parar. Como cristão, compadecia-se daqueles que estavam soterrados; como japonês, não suportava a vergonha de ter sido poupado.”

Quarenta anos depois, Hersey refaz o caminho desses homens e mulheres, que reconstruíram suas vidas dos escombros, mas se recusavam a ser chamados “sobreviventes”, em respeito aos mortos, referindo a si mesmos como hibakusha – “pessoas afetadas pela explosão”.

NOTAS

Nagasaki
Três dias depois de Hiroshima, outra bomba seria jogada sobre Nagasaki, matando 80 mil pessoas. As bombas tinham os simpáticos nomes de Little Boy (garotinho) e Fat Man (gordo). Na fuselagem do avião que carregou a bomba de Hiroshima estava pintado o nome da mãe do piloto: Enola Gay.

Experimento
O jornalista Jonh Hersey (1914-1993) trabalhou como correspondente internacional das revistas Time e Life e como colaborador da New Yorker. Um de seus livros, A bell for Adano (ficção) recebeu o Prêmio Pulizer (1945). Pouco depois da edição da New Yorker circular com a matéria sobre Hiroshima, o almirante Willian F. Halsey afirmou que os japoneses estavam prestes a se render, e que a bomba atômica fora “um experimento desnecessário”.

Lei
A respeito do texto da semana passada “Porta para a ‘gente diferenciada’”, a leitora Vólia Barreto lembra que em Fortaleza também existe uma lei que proíbe a discriminação em elevadores. De autoria do ex-vereador José Maria Pontes, a lei foi sancionada em 1996 pelo então prefeito Antônio Cambraia.

NOTAS

Nagasaki
Três dias depois de Hiroshima, outra bomba seria jogada sobre Nagasaki, matando 80 mil pessoas. As bombas tinham os simpáticos nomes de Little Boy (garotinho) e Fat Man (gordo). Na fuselagem do avião que carregou a bomba de Hiroshima estava pintado o nome da mãe do piloto: Enola Gay.

Experimento
O jornalista Jonh Hersey (1914-1993) trabalhou como correspondente internacional das revistas Time e Life e como colaborador da New Yorker. Um de seus livros, A bell for Adano (ficção) recebeu o Prêmio Pulizer (1945). Pouco depois da edição da New Yorker circular com a matéria sobre Hiroshima, o almirante Willian F. Halsey afirmou que os japoneses estavam prestes a se render, e que a bomba atômica fora “um experimento desnecessário”.

Lei
A respeito do texto da semana passada “Porta para a ‘gente diferenciada’”, a leitora Vólia Barreto lembra que em Fortaleza também existe uma lei que proíbe a discriminação em elevadores. De autoria do ex-vereador José Maria Pontes, a lei foi sancionada em 1996 pelo então prefeito Antônio Cambraia.

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