Reprodução do artigo publicado na edição de 2/4/2015 do O POVO.

Hélio Rôla (2)Zelotes e fariseus: o rombo da malha fina
Plínio Bortolotti

Quando o pacato cidadão é pego na famosa “malha fina” da Receita Federal, trêmulo, ele corre para acertar suas contas com o Leão, que lhe ruge como o colega de Metro. Agora, para os superempresários e superbanqueiros, o Leão mia como um gatinho.

É preciso ressalvar que os auditores da Receita não podem ser responsabilizados pelos hipermalfeitos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Pelo contrário, devem estar revoltados com o contubérnio corrupto que livrava os malfeitores das multas aplicadas por eles.

A formação do Carf seria uma piada, não fosse uma tragédia. Qual país sério poria a raposa para tomar conta do galinheiro?: o Carf é formado por funcionários da Receita e por representantes de sindicatos patronais (ou seja, juiz e réu ao mesmo tempo). E, para o Carf só vão os tubarões, as piabas caem na malha fina. (Nada contra a malha fina, tudo contra a sua ineficácia em conter a sanha dos tubarões.)

Pode-se criticar Dilma Rousseff, mas em pelo menos uma coisa a presidente tem razão: a Polícia Federal nunca teve tanta liberdade para agir, pois agora está indo atrás também dos elementos “acima de qualquer suspeita”; o que, reconheça-se, é algo novo nesta Terra de Santa Cruz.

Pelo visto operação Zelotes vai transformar a Lava Jato em uma traquinagem de adolescentes e o famoso “mensalão” em um folguedo de crianças. E, de quebra, vai rodar mais um mito brasileiro: que por aqui se paga muito imposto. A realidade é que os super-ricos pagam pouco e sonegam demais.

PS. A propósito, a PF, sempre tão criativa em dar nome as suas operações, parece ter escorregado na “Zelotes”. Segundo Reza Aslam, autor de Zelota, a vida e a época de Jesus de Nazaré, os zelotes defendiam ideias igualitárias e pregavam a revolução armada contra Roma. O nome mais adequado para a operação seria “Fariseus”. (Lista de bancos e empresas investigados.)

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