Texto publico no caderno DOM., edição de 5/4/2015, do O POVO.
Jesus, o revolucionário fracassado
Plínio Bortolotti
O argumento central do livro Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré, de Reza Aslan, gira em torno da descrição do período em que o nazareno vivia, para mostrar que ele era “o homem e suas circunstâncias”, fruto de determinado contexto histórico, filho de um povo que vivia sob o jugo romano.
Um dos grupos mais radicais, surgido no século I a.C., era o dos adeptos da chamada “Quarta Filosofia”, liderados por um “professor carismático e revolucionário”, conhecido como Judas, o Galileu. Era um grupo disposto a recorrer a métodos violentos para confirmar a adesão irrestrita à Torá e à Lei, mantendo firme a “recusa em servir qualquer mestre estrangeiro” ou “mestre humano de maneira geral”. Pregavam a obediência irrestrita à soberania de Deus, e o zelo com seus ensinamentos, por isso “zelotas”. Um grupo desse tipo era, ao mesmo tempo, inimigo de Roma e inconveniente para as autoridades judaicas.
Aslan traça o retrato de Jesus como um “revolucionário fervoroso”, na Palestina do século I da era atual. Sobre ele, segundo Aslan, há somente dois fatos histórico seguros. O primeiro é que Jesus foi um judeu que liderou um movimento popular contra Roma; o segundo é que foi crucificado por isso. As demais passagens de sua vida provêm de fontes históricas precárias, afirma o historiador.
Aslan narra como fundamental para entender o Jesus histórico a ira que o toma, um dia após sua entrada triunfal em Jerusalém, quando expulsa os comerciantes do Templo: gritando, chutando a mesa dos vendedores, e libertando bois, ovelhas e pombos, que seriam vendidos para o sacrifício. Jesus fez essa algazarra no pátio público do Templo, lugar em que o comércio era permitido, desafiando Roma e as autoridades religiosas. “Um ataque aos negócios do templo é semelhante a um ataque à nobreza sacerdotal, o que, considerando-se a relação emaranhada [boa convivência] do Templo com Roma, equivalia a um ataque à própria Roma”.
É aqui que entra a tese de Aslan, contrariando quase tudo o que se diz sobre Jesus, principalmente os fieis, de que pouco interessaria a ele as coisas deste mundo. Depois do escarcéu promovido por Jesus, as autoridades do Templo buscam um modo de apresentá-lo como um revolucionário zelota, de modo a intrigá-lo contra Roma. Aproximando-se dele, em público, perguntam os sacerdotes: “Mestre, é lícito pagar o tributo a César?” Segundo Aslan saber se a lei de Moisés permitia pagar tributos a Roma era a característica distintiva dos zelotas. Portanto, o dilema que Jesus precisava resolver não era fácil.
“Mostrai-me um denário” (a moeda romana), diz Jesus: “De quem é essa imagem?”
“É de César”, respondem as autoridades.
“Bem, então devolvei a César a propriedade que pertence a César e devolvei a Deus a propriedade que pertence a Deus.”
Aslan diz ser “surpreendente” que até hoje essa passagem tenha sido interpretado como desinteresse de Jesus pela “coisas deste mundo”. Para o autor, o debate era sobre a soberania de Deus sobre a terra (Palestina). Portanto, diz Aslan, o que Jesus fez foi dizer que César deveria receber a moeda de volta, não como um tributo, mas porque a moeda era dele, com sua imagem estampada. Por decorrência, Deus tinha o direito de receber de volta a terra que os romanos ocupavam.
Para Aslan, Jesus foi crucificado por Roma justamente por querer implementar o reino de Deus na terra, reivindicando o manto de rei e de Messias, ameaçando a ocupação romana na Palestina. Desse ponto de vista, segundo Aslan, Jesus foi derrotado, como seus antecessores, pois não conseguiu o seu intento. A história do Cristo ressuscitado, vitorioso, diz o historiador, foi construída depois de sua morte.
Na época da dominação romana, assim como em todas as épocas a terra em questão se chamava Canaã, depois Israel, depois Judéia, Província da Síria e Israel a partir de 1948, jamais tendo se chamado “Palestina”.
O fato é que jamais houve uma terra ou país chamado “Palestina”, especialmente uma “Palestina do século I”.
Prova disso é que no Arco do Triunfo em Roma, referente à vitória contra a revolta dos judeus encontra-se a inscrição JVDEA CAPTA, Judéia Conquistada, e não PALESTINA CAPTA.
O termo “Palestina” deriva da denominação Philistina, dada pelos romanos à terra após a vitória sobre os judeus. O nome nunca pegou, nem mesmo os árabes a adotaram.
Foi adotado na década de 20 quando, após a I Guerra Mundial, a Liga das Nações dividiu o Império Turco entre franceses e britânicos, criando, no território designado à Inglaterra o tal “Mandato Britânico da Palestina”.
A bandeira do mandato tinha uma estrela de David.