Reprodução do artigo publicado na edição de 16/4/2015 do O POVO.

Arte: Hélio Rôla

Arte: Hélio Rôla

Dilma e Obama
Plínio Bortolotti

Diferentemente de Dilma Rousseff, que inicia o segundo mandato como versão piorada do primeiro, Barack Obama resolveu deixar sua marca de estadista antes de desocupar a Casa Branca. (A propósito, presidentes americanos têm o bom senso de parar de imiscuir-se na política interna do país depois que deixam o cargo; por aqui temos quatro deles dando pitacos sobre todo e qualquer assunto: como diria Cid Gomes, não querem largar o osso.)

No primeiro mandato, Obama já enfrentara a direita hidrófoba ao instituir um sistema de saúde que, de algum modo, acudiu os mais pobres. Voltou à carga no início deste ano propondo medidas para enfrentar a crescente desigualdade em seu país. Entre as ações, incluiu o corte de impostos para famílias pobres e de classe média e o aumento da tributação para as empresas e o mais ricos.

Foi também nesse discurso que Obama defendeu o fim do embargo a Cuba, tomando medidas ousadas para cumprir o objetivo, a mais recente, a decisão de tirar a Ilha da lista dos países que “patrocinam o terror”. Somente isso já garantiria o seu lugar na história, pois inverteu uma política que foi tabu para os americanos por mais de 50 anos, principalmente para os poderosos grupos de pressão anticastristas que vivem em Miami.

Por sua vez, Dilma Rousseff, assim que assumiu o segundo mandato, escolheu um caminho mais fácil (supostamente): convoca um ministro para implementar medidas econômicas inversas à que prometera; entrega o comando da política do PMDB; e assiste à descida aos infernos que se transformou a operação Lava Jato. Dessa forma, não conseguiu refresco da feroz oposição que já lhe perseguia, e ganhou a antipatia de sua própria base, que não se vê representada por uma política que habituara a condenar.

Pode ser que ela resolva alguns dos problemas miúdos da política e da economia, mas não é assim que se forja um estadista.

PS. Com a decisão americana sobre Cuba, a direita destrambelhada no Brasil vai ter de arranjar outro país para odiar.

Tagged in: