Reprodução da coluna “Menu Política”, publicada no caderno “People”, edição de 10/5/2015 do O POVO.

CarlusReciclagem ou lata do lixo
Plínio Bortolotti

Depois de o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) contribuir para a inovação da política e da segurança pública, utilizando pitbulls para “dialogar” com professores e disciplinar jornalistas (esse profissionais que tem o mau hábito de se meter onde há confusão), resolvi tentar entender melhor o porquê das grandes mobilizações de professores, vistas atualmente.

Como se sabe, a tribulação paranaense começou depois de o governador ter tido a ideia de mexer no fundo de previdência dos servidores públicos – e os professores desconfiaram que a proposta governamental poderia garfar-lhes o direito a uma velhice decente, depois de anos e anos de labuta.

(Mesmo sem entrar no mérito de quem tem razão no debate previdenciário, o governador perdeu-a completamente depois da insanidade cometida na repressão aos professores, um show de violência, como poucos vezes se viu, com cerca de 200 feridos – entre eles 20 policiais -, alguns manifestantes em estado grave.)

Pois bem, cheguei ao estudo consultoria Gems Education Solutions, que verificou dados dos mais de 30 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e algumas nações emergentes, como o Brasil.

Um dos aspectos levantados foi o salário, revelando que os educadores brasileiros recebem, em média 14,8 mil dólares por ano (R$ 44,4 mil ao ano), ficando no fim da lista, acima apenas da Hungria e da Indonésia. O salário mais alto é o da Suíça, US$ 68,8 mil por ano. A comparação utilizou a média salarial durante 15 anos, com o critério de paridade de poder de compra.

No Brasil, os professores também são responsáveis por mais estudantes em sala de aula, atendendo 32 alunos, sendo que no Chile a média é de 27 estudante, e cerca de oito em Portugal.

No “índice de eficiência” da Gems Education – que combina vários aspectos relativos ao sistema educacional – o Brasil fica em último lugar, com 25,45% e a Finlândia em primeiro, com 87,81%. A consultoria alerta que não há “fórmula mágica” para resolver o problema e que salário maior ou turmas menores, não representam, automaticamente, educação de mais qualidade.

Outro estudo, este da OCDE, mostra que, apesar de o percentual de 6,1% do PIB ser dedicado à educação, o gasto por aluno é baixo no Brasil: US$ 2.985, sendo a média da OCDE de US$ 8.952. No ensino fundamental e médio estão matriculados 84,5% dos estudantes, no entanto, lhes são destinados 75% dos recursos, com o país gastando quatro vezes mais com um estudante universitário.

O que os políticos parecem não entender é que as famílias que ganharam ascendência com o Bolsa Família, aquelas cerca de 50 milhões de pessoas que saíram da miséria absoluta, percebem que seus direitos não se cingem a receber um (merecido) estipêndio mensal do governo; aspiram a ser cidadãos plenos, com a garantia de ter, no mínimo, segurança, educação e saúde, asseguradas pelo Estado.

Levando-se em conta a complexidade da conjuntura, é de se observar que não será tiro, porrada e bomba (e cachorros), que vão resolver os graves problemas brasileiros. O mais provável é esgotar-se a munição do que se eliminar o incômodo com o método da truculência: e a lição deve ser estudada por legislativos e governos municipais, estaduais e federal, os principais responsáveis por resolver essa equação desafiadora.

Frente a isso, o político tem duas opções: reciclar seus valores, trabalhando por um país mais igualitário, ou ir diretamente para a lata de lixo da história.

NOTAS

OCDE
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) agrupa 34 países, sendo a maioria considerados desenvolvidos. A entidade mantém cooperação com mais 100 países, entre eles o Brasil.

Buarque
Um dos poucos políticos brasileiros que insistem no tema educação é o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-ministro da Educação, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB). Do mesmo modo que outro pedetista, que fez do tema a razão de sua militância política: Darcy Ribeiro (1922-1997), criador dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), para atender estudantes das 8h às 17h. Projeto de Leonel Brizola, quando governador do Rio, depois abandonado.

Créditos
Para ter acesso ao estudo da consultoria Gems Education Solutions. Para ler mais sobre o estudo da OCDE.

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