Reprodução do artigo publicado na edição de 28/5/2015 do O POVO.

Hélio Rôla

Arte: Hélio Rôla

Em tempos de crise
Plínio Bortolotti

No domingo, na coluna “Menu Político”, publiquei o artigo “Como ganhar dinheiro de maneira fácil”, mostrando como os bancos, com crise ou sem crise, estão sempre com a lucratividade em alta.

Na segunda-feira (25/5), deparo com matéria no O Globo revelando como a banca deu um jeitinho na regra do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que regula o percentual de 65% sobre os depósitos da caderneta de poupança que os bancos devem destinar a empréstimos habitacionais. Pois os banqueiros descobriram mais um modo de ganhar dinheiro de maneira fácil, agravando as dificuldades de quem precisa empréstimo para comprar um imóvel.

Enquanto os bancos públicos aplicam no financiamento habitacional 67% dos recursos da poupança, os privados destinam 36% do montante para o mesmo fim. Não se trata de ilegalidade, pois o governo “flexibilizou” as regras, permitindo aos bancos aplicarem em fundos e títulos imobiliários para compor o percentual de 65%.

Os bancos remuneram os clientes da poupança com juros de 6%; pela legislação, podem cobrar juros no máximo de 12% ao ano pelo financiamento de imóveis, mas havendo brecha que lhes permite ganhar bem mais em fundos e títulos imobiliários, por que não?

Mas os banqueiros estão contentes? Qual nada. Os bancos se propõem aumentar os recursos para o SFH se o governo reduzir depósito compulsório da caderneta de poupança, que tem de ser recolhido ao BC. (Lembrando que o compulsório é elemento importante da política econômica.)

A proposta para deixar a banca com mais dinheiro em caixa é da Associação Brasileira das entidades de Crédito de Poupança (Abecip) que, a propósito, tem Octavio de Lazari Júnior, do Bradesco, como presidente; banco de segunda maior lucratividade do país em 2014, passando o rodo em R$ 15,4 bilhões, 25,9% a mais que no ano anterior, o maior lucro da história da instituição. Em tempos de crise.

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