Reprodução do artigo publicado na edição de 2/6/2016 do O POVO.///

Cunha continua mandando///

Vamos recordar: o deputado Eduardo Cunha foi afastado do mandato e da presidência da Câmara devido à interferência para livrar-se das acusações contra ele na Comissão de Ética, ou seja, de ter mentido na CPI da Petrobras – ao dizer que não tinha conta no exterior – e de praticar travessuras com o dinheiro público.

Para tomar medida tão drástica, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que Cunha, além de interferir indevidamente na Comissão de Ética, também agia para atrapalhar as investigações da Lava Jato.

“Além de representar risco para as investigações penais sediadas neste Supremo Tribunal Federal, (a permanência de Cunha) é um pejorativo que conspira contra a própria dignidade da instituição por ele liderada”, escreveu o ministro Teori Zavascki, relator do processo.

Portanto, parece claro como água, que Cunha desrespeita e até zomba do STF, pois, mesmo afastado, continua a fazer o que foi proibido de fazer pela mais alta corte do país.

As estripulias mais recentes de Eduardo Cunha foram usar Waldir Maranhão (PP-MA), presidente em exercício da Câmara, para recorrer à Comissão de Constituição e Justiça questionando os ritos do processo por quebra de decoro parlamentar. Investiu também contra o presidente da Comissão de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), pedindo o seu afastamento.

O poder de Cunha e a medida de sua influência negativa podem ser avaliadas pelo relato de Araújo sobre a reunião que teve ontem com o procurador geral da República, Rodrigo Janot. Segundo disse, ele foi à Procuradoria Geral buscar socorro; disse a Janot que, mesmo afastado, Cunha continuava agindo “mandando de todos os jeitos, sufocando o conselho”. Continua Araújo: “Eu disse (a Janot): só tem o senhor e o papa para me queixar. Aí ele disse para eu ficar com o papa”.

A que ponto se chegou, nem o bispo e nem o STF conseguem deter Eduardo Cunha; será preciso apelar diretamente para a Sua Santidade, o papa – e, do jeito que a coisa vai, talvez a instâncias mais altas.

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