Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 20/10/2016 do O POVO.

É justiça ou é política?

A operação Lava Jato contaminou-se de tal maneira que é difícil alguém deixar de enxergar viés político em qualquer de suas ações. Foi-se de um extremo a outro, começando com aquele juiz inalcançável – que falava apenas nos “autos do processo” – chegando-se a magistrados popstar, como Sérgio Moro, que já deve ter dado mais palestras e ganhado mais comendas do que o ex-presidente Lula. Juntamente com os espetaculosos promotores, formam a denominada República de Curitiba, que eletriza um país chamado Brasil.

Assim é que a prisão de Eduardo Cunha propicia análises para todos os gostos e partidos. Enquanto alguns comentaristas apressam-se a dizer que a decisão contra o ex-presidente da Câmara prova que a Lava Jato não é direcionada exclusivamente ao PT, os blogs de esquerda devolvem afirmando que levar Cunha à cadeia é anteparo para Moro fazer Lula seguir o mesmo caminho.

Portanto, estão em disputa (vá lá) duas “narrativas”: uma garantindo que a Lava Jato foi usada para “desconstruir” e “criminalizar” o PT; e outra pretendendo que o juiz e procuradores de Curitiba são servidores públicos inquestionáveis e apenas seguem o roteiro: primeiro o PT; depois os outros, cuja hora estaria surgindo agora, para calar de vez os petistas.

Questionamento a decisões de juízes fazem parte da democracia e são saudáveis, mas nesse caso, chegou-se a uma ruptura prejudicial à própria ideia de Justiça. E grande parte da responsabilidade recai sobre os métodos excessivos, porém de “boa-fé”, praticado por Moro e procuradores.

O fato é que Cunha está em prisão preventiva. Qual será o seu comportamento? Homem-bomba, que levará junto seus colegas de malfeitos? Boi de piranha, que vai debater-se, mas será tragado pelos agressivos peixes? Ou o cordeiro que aceita pagar pelo pecado dos outros?

De qualquer modo, o melhor é Lula, Temer e sua turma botarem as barbas de molho, apesar de os últimos serem glabros.

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