Reprodução da coluna “Política”*, edição do O POVO de 8 de novembro de 2016.

Mangabeira Unger elogia a ascensão dos evangélicos na política

Em entrevista à Folha de S. Paulo (5/11/2016), o professor Roberto Mangabeira Unger, que se classifica como “pensador de esquerda”, diz ver positivamente a ascensão dos evangélicos na política.

Para ele, “o desmerecimento preconceituoso dos evangélicos é um dos maiores escândalos de nossa vida nacional”. Segundo diz, “o cerne da teologia neopentecostal não é o culto da prosperidade conquistada pelo esforço individual; é a reverência pelo empoderamento dos crentes”.

CULTO DA PROSPERIDADE

Primeiro, não se trata do “desmerecimento” dos evangélicos, mas de criticar o papel político deletério de algumas denominações. Depois, afirmar que essas igrejas não têm como centro o “culto da prosperidade” parece revelar completo desconhecimento do que dizem seus pastores (basta uma busca na internet).

O que talvez Mangabeira esteja mirando, com seus elogios é o apoio de alguns desses segmentos para a candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República, de quem, mais uma vez, será colaborador.

A TOCHA

Toda vez que se fala em Mangabeira Unger, filósofo, que foi um dos mais jovens professores de Direito da Universidade de Harvard, lembro de uma brochura escrita por ele para a revista Carta Capital (1999).

Na apresentação, com o título “A chamada” – depois de narrar a conversa com um “velho economista, segundo ele o responsável por “um dos últimos e únicos esforços de originalidade e independência” no pensamento brasileiro -, Mangabeira diz ter saído do encontro como se o amigo houvesse colocado na mão dele “uma tocha”, como se fora “a promessa de uma luta de muitos anos, num vasto e desordenado país…”

MESSIANISMO

O texto sempre me pareceu um tanto messiânico, com o filósofo no papel de um líder civilizador. O problema é que o Mangabeira Unger – que foi ministro de Lula e de Dilma, assessor da campanha de Ciro a presidente (2002) e saiu do PMDB para aderir ao PDT – aparece e some da lide política, com se a tocha que ele carrega fosse intermitente, apagando e acendendo.

CAMPANHA

A propósito, no arremate da entrevista, Mangabeira manda esta: “Ao cingir-se a essa fórmula (corte de despesas), as forças que tomaram o poder (governo Temer) decretaram falência intelectual: não têm a menor ideia do que fazer, a não ser trancar o cofre e deixar chaves nas mãos dos credores da dívida pública, na esperança vã de que tanta obediência produza muito investimento”.

A VOZ DAS RUAS

Na oficina de bicicletas, o mecânico, um jovem – cerca de 20 anos de idade -, conversa com um cliente (não sou eu, que só ouço): “Eu vi os artistas da televisão falando daquela PEC, diz que vai tirar dinheiro da educação, tá errado”. Emenda: “O outro governo também roubava, mas fazia alguma coisa pela gente, esse é só pra ele”. E fecha filosoficamente: “O dinheiro é que escraviza nós”.

Enquanto espero a minha vez, um barbeiro diz para o outro, depois de uma preleção sobre o que ele considera os males da política: “Era preciso juntar pelos menos umas três mil pessoas, invadir aquele negócio (a Câmara, em Brasília) e dar uma surra nos deputados”. O outro: “E acabar com esses cargos comissionados, diz que tem copeiro ganhando 12 mil reais, não pode”.

ELE, DE NOVO

Mais uma vez o procurador da República Oscar Costa Filho tentou impedir a prova do Exame Nacional do Ensino Médio. O procurador parece ter obsessão pelo Enem. Lembro de pelo menos dois pedidos que ele fez tentando suspender a realização da prova, em 2010 e 2011. Não deixa de ser uma fórmula para repetir seus cinco minutos de fama.

* Em substituição ao titular Érico Firmo.

Tagged in: