Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 2/3/2017 do O POVO.

Salário é o verdadeiro motivo da revolta na PM?

Nas intervenções que faço no programa Revista O POVO (rádio O POVO/CBN) já comentei ser inaceitável que um Estado democrático conviva com motim de militares, homens armados que se organizam para ameaçar a sociedade. Disse, inclusive, que suspeitava haver algum tipo de organização a conectar esses movimentos, o que poderia lhes dar características semelhantes ao papel pernicioso do Exército em 1964.

Pois O Estado de S. Paulo (25/2/2017) revela que “um grupo político ligado ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) esteve na linha de frente da comunicação e da logística do motim que parou a Polícia Militar do Espírito Santo”. O jornal montou um grupo de especialistas em redes sociais para estudar o caso, chegando a nomes como do ex-deputado Capitão Assumção e do deputado federal Carlos Manato (SD), aliados de Bolsonaro no Espírito Santo.

O jornal rastreou a interação online, identificando uma “intensa troca de mensagens” entre pessoas ligadas a esse grupo “influente na PM capixaba”. Publicações do próprio Bolsonaro atingiram “recordes de visualizações” durante a paralisação. Apenas um dos vídeos de Bolsonaro, criticando o governo do Estado, defendendo os amotinados e alertando para a possibilidade de o movimento se espalhar para outros estados, teve dois milhões de visualizações.

A Polícia Federal está investigando a origem do movimento, que provocou 181 homicídios, principalmente em Vitória e na região metropolitana e a Justiça Militar decretou a prisão de vários participantes do movimento, incluindo um tenente-coronel. Assumção e o coronel Alberti Foresti estão presos.

Portanto, se alguém pensa que essa movimentação da Polícia Militar é mera reivindicação salarial – e não descarto que para um setor de praças a questão se resuma a isso -, porém esses são apenas massa de manobra dos titereiros, cujos interesses são maiores, piores e contra a democracia.

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