Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 15/2/2018 do O POVO.

Carnaval de tolices

Se houvesse concurso para premiar a declaração mais idiota no período de Carnaval, haveria ferrenha disputa entre o superintendente da Polícia Federal, Fernando Segovia, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A favor de Segovia deve-se dizer que ele apenas errou o alvo, apesar de ser um homem de armas. Se houvesse acertado, estaria sendo aplaudido pela sua camarilha: José Sarney, seu padrinho, puxando as palmas, sob incentivo de Michel Temer, parceiro do delegado para encontros fora da agenda. Seriam secundados por Carlos Marun (MDB-MS), que iria cacarejar o passamento das investigações contra o presidente.

Ocorre que Segovia assestou a mira contra o delegado da PF Cleyber Lopes – seu colega que investiga se Temer por corrupção -, mas atingiu em cheio no próprio presidente, a quem ele queria preservar.

Sim, pois o superintendente afirmou não ver indícios incriminatórios contra Temer – mesmo com a investigação inconclusa. E sugeriu que Clayber poderia ser punido pela ousadia de ter enviado uma lista de perguntas ao presidente.

O objetivo do superintendente da PF era enterrar as investigações contra Temer, jogando uma pá de cal por cima. Se o negócio tivesse dado certo, seria o crime perfeito. Agora é ele que está enrascado, pois terá de prestar esclarecimento ao STF. O tiro saiu pela culatra.

Quanto a Rodrigo Maia, ele expõe a velha arrogância da elite que “sabe” o que é melhor para o povo. Quem não concorda com a política bondosamente prescrita pelo “mercado” é simplesmente burro. Claro que, elegante, evitou a palavra explícita, preferindo rotular os desviantes como “desinformados”.

Foi essa classificação de Maia aos integrantes da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, que desfilou com o tema “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, com severas críticas às políticas do governo. Portanto, para Maia, a comunidade é ignorante sobre sua própria vida e suas dificuldades.

Quem sabe o iluminado Maia, munido de um power point, pudesse visitar o barracão para explicar àquele povo preto, pobre e ignorante que, ao contrário das evidências, eles vivem no Paraíso: não é isso que está inscrito no estandarte da escola?

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